Que és minha mãe?!...
C. O. SOUZA
1906.
Que tu és minha mãe?... deusa adorada,
Pura imagem da dor, um anjo santo,
Luzeiro divinal de minha estrada,
Meu culto, minha crença, encanto;
Mulher meiga, sublime, imaculada,
Alento do pesar que sofro tanto,
Modelo da bondade, alma sagrada,
Que no riso d'amor me enxuga o pranto!
Se na vida fosse esse portento,
Essa mãe que nos vela enternecida
Quem sofrer poderia o vil tormento?!
Bendita sejas, deusa querida!
Bendita sejas tu, suave alento;
Amor de meus avós — A minha vida!
***
A meu alguém
DA COSTA E SILVA
10 de abril de 1910.
Maio. No azul do céu o azul dos olhos ponho;
E, olhos no azul, as mãos em cruz, lábios em prece,
De joelho rezo, e não sei bem se cismo ou sonho,
Quando a etérea Visão de alguém sobre mim desce.
Que encanto celestial no seu perfil tristonho!
É tal qual à Ilusão que em minha alma floresce!
É tão linda, Senhor ! tão lindo que eu suponho
Ser tua Mãe que o céu descendo me aparece...
Uma sombra de luz, a Visão acompanha...
(Uma sombra de luz Sombra?I... Parece um raio
De sol a cintilar numa teia de aranha).
Minha mãe! és o Alguém que a mim desce, entre o brilho
Diluente e vago de um crepúsculo de maio...
— A sombra de ouro é o pensamento de teu filho.
***
Sonho simples
MARIO PINTO DE SOUZA
1904.
Já que não posso, como a alguns é dado,
Ter junto ao meu teu coração pulsando;
Já que não posso estar sempre ao teu lado
E a Lace te beijar, de quando em quando;
Faço por iludir meu triste fado,
O teu retrato, minha mãe, fitando,
E triste, triste, em teu retrato amado
Beijos de amor e de saudades dando.
E às vezes, mãe, quando escurece o brilho
Do coração daquele que é teu filho,
O teu olhar no meu retrato posto,
Digo a mim mesmo, como que em segredo:
— O meu maior, o meu maior desgosto,
É ter perdido minha mãe tão cedo.
***
A minha mãe
JOSÉ NEWTON
5 de abril de 1888.
Quando alvorece a mocidade à gente,
Como estrela em demanda do infinito
Entra nossa alma a procurar ardente
O casto afago de amor bendito.
E quando o sonho se desfaz em nada
E, ao baquear das rútilas esferas,
A pobre mocidade tresloucada
É como um cemitério de quimeras,
As mães, asas febris dos nossos ninhos,
Doces pombas do céu que um dia esquecem,
Se nos veem sofrer, têm carinho
E generosas lágrimas que aquecem.
Minha mãe! se não podes, doce aurora,
Ao vácuo enorme em que me vejo imerso,
Lançar o olhar que me aqueceu outrora,
A leve mão que me embalou o berço.
Que o teu afeto, atravessando o espaço,
Transpondo a vastidão do mar profundo,
Venha vestir-me uma armadura de aço
Para a luta sem trégua deste mundo.
***
À minha mãe
PHELIPPE DERBLAY
15 de maio de 1886.
Ó minha doce mãe, eu tenho dentro d'alma
Um cofre de ilusões, um cofre de incertezas;
E dentro de meu peito — ninho sem beleza —
Implume quer voar um coração sem calma.
Uns estos de ternura eu tenho para te dar
Em troca d esse amor puríssimo, divino,
Eu tenho, ó minha mãe, eu tenho um riso, um hino
Para sempre, em quanto viva, os sonhos te embalar.
Por todo o teu amor — os louros que eu procuro
Os sons do meu cantar, a voz do coração,
E ainda mais que tudo, eu tenho o meu futuro.
Para amar a Deus e a ti, eu tenho a oração;
Mas vê, sou fraco e pobre. Em meu pensar escuro
Acende, ó minha estrela, a luz da inspiração.
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