Sinal
de fumaça
A ironia de Emílio de Menezes não
poupava a ninguém. Homens e instituições caíam sob os golpes de sua crítica
demolidora.
Dele se conta que, certa vez, fazia
parte de um grupo de amigos que, na Brahma,
esperava o resultado de uma eleição na Academia Brasileira de Letras.
Emílio dava sinais de impaciência.
Levantava-se a todo instante e ficava olhando para os lados do Silogeu, onde
tinha sua sede a fundação Machado de Assis.
— Mas para que diabo olha você? — indagou,
curioso, um dos companheiros.
— A fumaça — respondeu Emílio. — Estou
esperando a fumaça. Pois não sabem que eles adotaram agora o sistema das
eleições do Vaticano. No Vaticano é assim quando é eleito o Papa, sai uma
fumaça anunciadora.
Os rapazes estavam todos intrigados
com o que ouviam, percebendo a malícia do narrador. Um deles, mais ingênuo,
chegou a perguntar:
— Mas é certo que a Academia está
fazendo isso mesmo?
— Certíssimo! — confirmou Emílio,
torcendo os bigodes. E, depois de uma sonora gargalhada, explicou aos ouvintes:
— É para dar destino às obras dos
candidatos...
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A Cruz, 25 de
abril de 1954.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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