1/20/2019

Sinal de fumaça (Emilianas)


Sinal de fumaça

A ironia de Emílio de Menezes não poupava a ninguém. Homens e instituições caíam sob os golpes de sua crítica demolidora.

Dele se conta que, certa vez, fazia parte de um grupo de amigos que, na Brahma, esperava o resultado de uma eleição na Academia Brasileira de Letras.

Emílio dava sinais de impaciência. Levantava-se a todo instante e ficava olhando para os lados do Silogeu, onde tinha sua sede a fundação Machado de Assis.

— Mas para que diabo olha você? — indagou, curioso, um dos companheiros.

— A fumaça — respondeu Emílio. — Estou esperando a fumaça. Pois não sabem que eles adotaram agora o sistema das eleições do Vaticano. No Vaticano é assim quando é eleito o Papa, sai uma fumaça anunciadora.

Os rapazes estavam todos intrigados com o que ouviam, percebendo a malícia do narrador. Um deles, mais ingênuo, chegou a perguntar:

— Mas é certo que a Academia está fazendo isso mesmo?

— Certíssimo! — confirmou Emílio, torcendo os bigodes. E, depois de uma sonora gargalhada, explicou aos ouvintes:

— É para dar destino às obras dos candidatos...


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A Cruz,  25 de abril de 1954.

Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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