Fiapo
A passo lento, seguia Emílio de Menezes pela Avenida Rio Branco, quando dele se
acercou um dos mordedores que por ali passava.
— Boas tardes, Emílio amigo, como vai
a saúde?
—Muito bem. Que me queres? Não te
demores em dizê-lo, porque tenho necessidade de chegar cedo à casa.
E o mordedor gentil, fazendo jus à
espécie, entrou a "dedilhar" o fraque negro do poeta e com arte
sacudia as partículas de poeira que lhe descobrira no vestuário.
Avistando um fiapo, com os dedos em
tenaz, lançou-o ao solo enquanto dava o bote:
— Estou, meu caro Emílio, em um dos
meus piores dias; arranja-me uns dez réis...
O poeta, após o natural sobressalto,
protestou:
— Dez mil réis!...
E apontando a gola do casaco,
exclamou:
— Põe já o fiapo outra vez aqui!
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Revista a Cigarra, junho de 1927.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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