Elixir de Nogueira
Havia no Pará um seringueiro rico que
amava o prazer de conviver com escritores e poetas. Era o coronel Avelino
Chaves — um homenzinho pequenino e vivaz, que tinha na cara, como estigma da
sífilis implacável, a cicatriz de uma goma que quase lhe devorara o nariz.
Tendo ido certa vez ao Rio, o coronel Avelino
Chaves quis à força conhecer Emílio de Menezes.
Amigos comuns levaram-no, numa tarde,
à Confeitaria Paschoal, à hora do aperitivo, para ver de perto o "grande
poeta".
Apresentado a Emílio de Menezes, o
coronel Avelino pagou-lhe imediatamente, com grande ostentação de generosidade,
copiosos aperitivos.
Depois de ter ingerido vários grogues,
o grande epigramatista que desde o começo ruminava a sua perfidiazinha, olhou
de frente o seu mecenas, e tomando o ar mais amável deste mundo, exclamou:
— Eu já o conhecia muito, coronel.
— A mim, Dr. Emílio! respondeu,
radiante, o seringueiro.
— Sim, senhor. Conhecia-o de
fotografia.
— Mas, então?!... interrompeu o
coronel Chaves, sentindo calafrios de orgulho ao contato daquela insuspeitada
celeridade que Emílio lhe revelava.
— É exato. Vi muitas vezes a sua
fotografia, coronel, em todos os jornais do Rio.
E, com gravidade, rematou:
— Nos anúncios do Elixir de Nogueira.
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Revista Careta, 14 de maio de 1932.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019).
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019).
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