Canção Popular
(1928)
Leitora,
deixe a cidade
Por
um instante, somente
E
venha, rapidamente,
Sentir
a simplicidade
Dos
"reisados" lá do povo
Das
terras do meu sertão.
Meia-noite...
A lua cheia
Prateia
todo o terreiro,
E,
contornando o braseiro,
Uns
velhos pitam cachimbo.
Um
deles, como não fume,
Fita
uma estrela no céu
Que
pisca os olhos, e assim,
Mais
parece um vagalume!...
Geme
o gado no curral...
Um
marroeiro da terra
Solta
urros, desafio,
Cavando
no pé da serra...
Não
tenha medo, porém...
Aquele
bicho que brame
É
manso e todos sabemos
Que
não faz mal a ninguém.
Pior
são os automóveis,
Que,
ao berrarem, de repente
Senão
se lhes der caminho.
Passam
por cima da gente.
Veja
aquela lanterninha
Que
vem na orla da estrada!
É
o "Terno da Alvorada”
Que
se dirige à lapinha...
São
sertanejas formosas,
Lindas
morenas robustas,
Flores
de carne, do solo
Destas
paragens adustas!
Ei-las
que passam por perto
De
nós, querida leitora...
Vamos
lá, confesse agora,
Não
é mesmo encantadora
Cada
morena que vemos?
Vou
lhe dizer um segredo,
Que
não passe de nós dois:
Muitas
delas ignoram
O
que seja o pó de arroz!
Parece
incrível, não é?...
E
que bonitas que são,
Embora
mesmo tostadas
Do
sol quente do sertão!
Duas
horas... Vamos ver
O
samba roxo ferver
Na
malhada da fazenda...
Aquela
que está dançando
Na
roda sapateando,
É
a Maria Luz,
A
filha do Coronel;
E
o caboclo que a acompanha
Sentado
com a viola
É
o vaqueiro, o Manoel.
Amam-se
os dois, e, por isso,
Veja
com quanto feitiço
Ela
olha os olhos dele!
Ouça
como o instrumento
Que
ele toca vibra uns sons
Tão
cheios de sentimento!
É
costume cá da terra,
Não
critique, por favor;
É
pontilhando a viola
Que
a gente fala de amor!
Cinco
horas da manhã...
O
samba vai animado...
Já
canta a maracanã
Nas
juremas dos cerrados...
Para
as bandas do nascente,
Há
fogo vivo no céu...
Leitora,
bote o chapéu
Voltemos
para a cidade
Que
o sol já está para nascer...
Como
é costume ofereço
A
tão gentil companheira
Não
uma rosa, que, aqui,
Não
pode medrar roseira,
Nem
uma flor de pitanga,
Pois
não temos pitangueira,
Mas
ofereço – isso sim –
Este
ramo de alecrim
Muito
verde e bem cheiroso,
E
este outro de mureci.
Pois
é neles que se encerra
Todo
o formoso poema
Da
singeleza da terra.
SODRÉ
VIANA
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