Aspectos biográficos de Gonçalves Dias
Antônio Gonçalves Dias nasceu na província do Maranhão, município de Caxias, no sítio da Boa Vista, terras da fazenda Jatobá, no dia 10 de agosto de 1823. Foram seus progenitores: o negociante português João Manuel Gonçalves Dias e a mestiça Vicência Mendes Pereira. Antônio Gonçalves Dias foi filho bastardo de João Manuel Gonçalves Dias, que depois matrimoniou-se com Adelaide Ramos de Almeida, que foi para com o poeta mais mãe do que madrasta, pois, não tendo filhos que quisessem seguir a carreira das letras, e conhecendo a tendência do seu enteado, auxiliou-o tanto quanto podia, como se se tratasse de seu filho mais querido.
Em 1837 partiu Gonçalves Dias do São
Luiz do Maranhão para Coimbra, de onde, tendo falecido seu pai, regressou em 1838;
mas, graças aos bons sentimentos e generosidade de sua madrasta, voltava de
novo a Portugal, nesse mesmo ano, para continuar os seus estudos, que elevou
até ao bacharelado de ciências jurídicas, impedindo-o de completar o curso um
grave negócio de família, cujo desempenho o impossibilitou de ver satisfeitas
as aspirações que nutria.
Voltou com esse modesto grau para
sua cidade natal, onde exerceu a profissão de advogado, durante alguns meses do
ano de 1845.
Em 1846 procurou a Corte, onde
deu à publicidade os Primeiros Cantos,
que a princípio recebidos com frieza, — pois o próprio Jornal do Comércio, já então arvorado em oráculo do jornalismo, apenas
consagrou-lhe duas linhas, — foram lentamente conquistando e consolidando a
reputação de primeiro lírico brasileiro, de que Gonçalves Dias devia gozar
depois sem disputa, graças à crítica de Alexandre Herculano, que, ante apropria
pátria do poeta, o saudava gênio, espedaçando assim as muralhas do silêncio,
que a inveja e a ignorância levantam em torno do nome e das obras dos que
trabalham com talento. A crítica de Herculano veio surpreender os brasileiros
que não sabiam que tinham um poeta de tão alevantada estatura.
Em 1852 casou-se com a excelentíssima
senhora Olímpia da Costa, filha do conselheiro Cláudio da Costa, de quem o afastaram,
nos últimos dias de sua vida, desgostos íntimos, provocados e alimentados por
infames amigos, por quem se deixava dominar completamente, a ponto de
enfraquecerem-lhe a razão, e o arrastarem a excessos mortais, que lhe
desenvolveram os padecimentos pulmonares, de que viria a falecer, se, no dia 3
de setembro de 1864, não tivesse sido vítima de um naufrágio nas costas do
Maranhão.
Teve o poeta a felicidade de
ouvir em vida o juízo que dele faria a posteridade, pois um ano antes de desaparecer
de entre os vivos, se espalhava o falso boato de sua morte, que foi geralmente
lamentada como uma desgraça imensa. Infelizmente, como víamos, não sobreviveu
muito tempo ao mau agouro.
Escreveu os Primeiros, Segundos, Novos e Últimos
Cantos, quatro Cantos dos Timbiras,
os dramas Leonor de Mendonça, Boabdil, Beatriz Cenci, Patkull;
os romances Memórias de Agapito Goiaba,
de que vêm nas suas obras póstumas soberbos capítulos, que fazem sentir ter o
poeta, por escrúpulos inexplicáveis, lançado ao fogo o restante da obra; várias
memórias sobre história pátria, e o notável estudo apresentado ao Instituto Histórico
sobre o Brasil e a Oceania.
Sobre o mérito de Gonçalves Dias
e o juízo público universal, está bem estabelecido no antigo e no novo mundo.
As suas poesias têm sido vertidas
para o alemão, para o inglês, para o francês. Nacionais e estrangeiros, os críticos
têm sido unânimes em admirá-lo.
Os seus comprovincianos, aos quais
tanto honrara com o talento e com o exemplo, levantaram-lhe uma estátua, que, valendo
como expressão momentânea de entusiasmo, é, todavia, de esperar que dure menos
que suas obras, esse pedestal indestrutível, que o poeta preparou na passagem
pela vida, para sobre ele erguer a sua memória, como um incitamento às gerações
vindouras.
Gonçalves Dias é o melhor mestre
dos que seguem a carreira literária.
Tem um estilo sóbrio e preciso; é
um colorista primoroso. Os seus versos primam pela inspiração e pelo fino
gosto, que revelam. Não há em língua portuguesa páginas tão ricas de boa
linguagem como as dos Cantos, e
principalmente dos Timbiras, obra, à
qual o futuro fará mais justiça do que a atualidade, quando ficar reconhecido
que cantor do Itajubá é tão grande como o do Fingal.
Tal foi Gonçalves Dias; tais
serão julgadas as obras desse grande poeta, cujo gênio as gerações futuras
considerarão como o ponto culminante, o mais elevado, o melhor definido, do
espírito romântico na literatura brasileira.
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TEÓFILO DIAS
TEÓFILO DIAS
Revista da Semana, 19
de setembro de 1885.
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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