O gaiteiro Quinca Micuá, fugido de
sua terra, vai contar o que lhe sucedeu
à primeira pessoa que dele se condói,
aqui, na Capital Federal,
Quinca Micuá
(O Gaiteiro do Sertão)
Nosso Sinhô dê bons
dia
a vasmincê, meu
patrão,
e a toda a sua famia.
Cheguei há cinco
sumana
nesta grande Capitá.
Sou musgo!... Musgo
gaitêro!...
E, não é pru me gavá,
fui o terrô dos
violêro
dos sertão do Ceará.
Os samba daquela
terra,
adonde canta a viola,
adonde geme o ganzá,
não via o nacê do
dia,
sem o gimido chorado
do gaitêro arriliado,
do seu Quinca Micuá.
Cumo o rio — da
nacente;
cumo a pranta — da
simente;
cumo a simente — de
coisa
que ninguém sabe...
ninguém,
nací gaitêro tômbêm!
Vasmincê pode me crê:
não fazia duas hora
que acabava de nacê,
e já levava parmada
de minha mãe, cumo
quê!!
Toda a vez que ia
mama,
a pobrezinha gritava,
pruque eu, mamando,
apertava
aquela santa maminha,
pensando já, meu
patrão,
que fosse uma
sanfoninha!!
Eu sempre fui um
cabôco
bunito, cumo ele só!
As tapuia lá dos
verde
dizia que eu tinha
uns óio
facero de noitibó!
Quando eu intrava num
samba,
todo pimpão e
gostoso,
cum os cabelo
ingurdurado
dum gósméco, bem
chêroso,
a cabrochada
assanhada
ficava logo inciumada
de me vê dengoso
ansim!
Tudo que era
fermuzura
ficava doida pru mim!
Eu tômbêm fazia cera,
mas porêm, cumo
brinquedo!
Dêxava sêmpe as
cabôca
lambendo os óio dos
dedo.
Querê bem?! Não! Que
isperança!
Nunca pude credita
im tanta jura de amô
que me fazia a
Tudinha,
a Miritinha, a Izabé,
naquelas caraminhola,
que é o visgo que sái
da boca
da pió sucúrújuba
que Deus criou: — a
muié!
________________
Agora iscute, patrão.
Prós lado lá do
sertão
do meu santinho
Ceará,
vivia um hômem
chamado
— Lotéro Caracará.
Era rico, apois
pissuía
uma fortuna de gado.
________________
Findava o mês da
mutuca.
________________
Na minha daquele dia,
tinha chegado da Côrte
uma afiada do véio,
cum o nome de
Cunceição.
________________
Era um dia de fônção!
Lotéro, que era
casado
cum a sinhora Cunegunde
e tinha um érmão
doutô,
tinha mandado inducá,
na Côrte... na Capitá,
essa tá de Cunceição,
cum carinho e munto
amô!
Tinha a mocinha seis
ano,
quando saiu do
sertão.
Era férmosa, apois
não!
Os óio dela fazia
pipoca no coração.
Tinha um nariz
paricido
cum o bico do
tinconcão.
As corda dos seus
cabelo,
im duas trança
ispaiáda,
era cumo dois sedenho
duma vaquinha
amojada.
Cunceição era
sarada!!...
Não tinha a cô das
cabôca!
Era da cô da passóca,
tirante a batata
assada.
Cantava e tocava
musga
num caxão grande, — o
priano,
que eu vi a premera
vez
im casa do seu doutô
Batia língua cum ele,
falando as língua da
instranja,
que inté mitía pavô!
Cunceição tinha o
segredo
de conta, riscando os
númbro
no pape, sem sê
percizo
conta cum as ponta
dos dedo!
Num instantezinho
inscrivia
tudo o que ela bem
quiria!
Im pé, andando ou
deitada,
im quarqué livro ela
lia,
si li dava na veneta!
Lia pru-riba e
correndo,
que eu ia prá mim
dizendo
que era coisa do Capêta!
Quando falava...
hinspanhó,
o doutô chamava ela
murzella... ou... miudamurzélla!
Eu vi, patrão, munta
vez
que ela logo
arrespundia
"murciú",
falando ingrês!
Cunceição vinha passa
argum tempo no sertão
cum Lotéro e cum sá
dona!
Era um dia de
fônção!...
Eu ia toca sanfôna.
Naquela noite,
patrão,
meu insturmento
gritava,
parece que
arrebentava
as tripas do coração!
A minha gaita
cantava,
cumo si fosse um
vim-vim!
Aquela moça já tava
achamegada pru mim!
Ela se pôs cum
inxirisse!...
Óiáva p'ra mim!... si
rial...
Eu, na sanfôna,
gimía!...
Ela uma
"coisa" me disse!...
Eu logo me
dirritía!...
Mas a canela da onça,
meu patrão, não
assubía!...
Foi o diabo, patrão!
O cara de barbatão,
que se danava de
feio,
mais feio que São
Simão,
oiáva ansim de
réis-véis,
arripiava a quêréca,
imquanto a véia
sapeca
me oiáva cum danação.
A muié tinha o nariz,
(não ofendendo os
presente),
— de castanha de
caju!...
Era uma véia
barbada!...
Tinha uma cô de
imbuzada!...
Só tinha uns óio
bunito,
cumo os óio do tatu!!
Um gaitêro, o Zé
Fréchão,
me óiando, inté
paricía
me querê cume cum as
mão!
Baixinho, a ruê
coirana,
Inluminata, a
Rosinha,
a Chica, a Luíza, a
Tudinha
xingava a mim e
xingava
a sinhora Cunceição.
Quando isquentava a
fônção,
apois, agora, o doutô
tava tocando o caxão
prás moça toda porká,
a Cunceição, a
danada,
me puxou, num
safanão,
pr'a me dizê:
"Micuá"!
"Eu tôu memo
apaxonada!...
Tu firiu meu
coração!"
Ela contou que o
padrinho
quiría que ela
casasse
cum o érmão, o tá
doutô,
um moço todo lampêro,
que istudou na Capitá
seis ano, prá
curandêro,
e que ela não tinha
amô!!!
Que não quiria casa,
somente pr'ú sê doutô,
cum esse cara de
intanha
e bico de picapáu.
Levasse a breca a
sabença,
que ela amava uma sanfôna,
o insturmento mais
bunito
ao despois do
marimbáu.
Patrão, este seu
criado,
o seu Quinca Micuá,
uvíndo o que ela
dizia,
trimía, patrão,
trimía,
cumo o junco da lagoa
im dia de ventania!
Pr'á pude me
arritirá,
ánte da festa acaba,
foi perciso que eu
jurasse
p'ra sá dona
Cunceição
que eu ia no outro
dia,
sem farta, toca sanfôna
no samba do Zé
Chicão.
Quando eu cheguei, no
outro dia,
na guarapêra do
cabra,
já Cunceição
incontrei.
Óie, patrão: a
verdade
nunca mereceu
castigo!
Eu tômbêm me
apaxonei!!!
No samba do Zé
Chicão,
foi o diabo, patrão!
Um cantado de viola
fez esta
impruvisação: —
"Eu já vi um sapo-boi,
num aguaçá dum
bréjão,
"dizendo que a
sua gaita
parecia um
azulão".
Preguntando um outro
cabra:
— E o que tu disse,
Janjão?!
O prêmêro
arrespondeu: —
"Eu varejei uma
pedra
no fucinho desse
cão".
Puxei pula
intiligença,
e arrespundi prô
zangão:
"Estes verso bem
amostra
que saiu dessa
cachola!
O sapo-boi, que tu
viu,
tá tocando
viola".
O cabôco tiriúma
cuspiu do couro o
quicé!
Eu, no meio das
cabôca,
isgruvitava cum os
pé!
Se as muié não
cunsintía
que eu me ispaiásse à
vontade,
(não minto, não, falo
séro!)
garrei na minha sanfôna,
e... perna p'rá quê
te quero!
Apois, esse violêro
do samba do Zé
Chicão,
o cabra da gaforinha,
se as muié não me
garrasse,
não cumía mais
farinha!
Apois, dona Cunceição
me pidía!...
Supricava
pula santa de seu
nome!!
Caxinxe, é sêmpe
caxinxe,
e um hôme, é macaco é
hôme!
Ao despois, o seu
Lotéro,
sabendo daquelas
coisa,
disse a sinhá
Cunceição
p'rá não falá mais
cumigo!
Ora, vêje que pirigo!
Sá Cunceição, que era
fina.
cumo a gente diz pru
cá,
de minha, todos os
dia,
imquanto os véio
drumia,
lá ia assunta cumigo,
imbáxo dum biribá.
Eu nunca vi coisa
ansim:
a muié, que era
inducada,
gostava memo de mim!
Caísse as água do
céu,
ou fizesse o Só bom
dia,
certinho, toda a
minha,
o biribá já me via
tocaiando a
Cunceição!
Na minha que ela não
vinha,
era que o véio babão
e a rabujenta
madrinha
tinha acordado mais
cedo.
Ora, um dia eu tive
medo!
O coirão da
marvadinha
me catucou p'rá fugí!
"Sá dona!"
eu arrespundi:
váincê é moça
inducada!
Eu sou um pobre
gaitêro,
um tocado de sanfôna!
Isso é coisa munto fêia
p'ra uma mocinha
dizê!
Não fale nisso, sá
dona!...
Óie, Sá dona, o
Tinhoso
tá tentando
vasmincê!"
Inda eu táva
supricando,
e a muié me dava as
costa,
indo imbóra,
arresmungando.
***
Passêmo duas sumana,
sem tá junto... sem
nos vê!
Despois que a gente
arengou,
de minha, naquela
hora,
eu passava munto
longe,
iscundido atrás das
moita
das verde jaráuácica,
p'rá vê se via o
diabo
da mocinha tiririca!
Tinha perdido a
aligria!
Nunca mais toquei num
samba!
E a minha gaita
gimia,
cumo a curuja
avuando,
quando a noite come o
dia!
A tia Angérca, uma véia
da casa de seu
Lótéro,
que cumigo se
incontrou,
me disse que o tá
doutô
fazia cera cum
ela!...
Cum ela!... Sim!...
Sim, sinhô!
Senti nos bofe um
calô!...
O carcanhá me trocêu!...
Eu juro a váíncê, eu
juro,
que, sem toca cum
estes dedo,
a minha gaita gemêu!
Naquela noite eu
andei!...
Andei pulas
mataria!...
A sanfôna não
tocava!...
Táva muda!... Não
gimia!
Eu apertava...
afróxava!!...
táva sem voz!... Só
bufava!
Quando se perde a
vrégonha,
abasta o amô querê,
faz do hôme uma
pamonha!
Fui pedi a tia
Angérca
p'rá dizê p'rá
Cunceição
que eu táva isperando
ela,
ánte do Só acorda,
no outro dia, cumo
sêmpe,
imbáxo do biribá.
Dito e feito. No
outro dia,
naquela hora marcada,
eu isperava a
marvada!
A sanfôna, pindurada
num ramo, a se
imbalançá,
quando uviu ela falá,
sem eu toca cum estes
dedo,
introu de novo a cantá!
Pula arage balançada,
no ramo, d'aqui p'ra
lá,
parecia inté, patrão,
que a gaita era o
coração
do férmoso biribá!!!
Eu entonce preguntei
se ainda me tinha
amô.
Não disse nada!...
Calou!
Eu falei nesse
inxirído,
no moço... no... no
doutô!
Foi entonce que
falou,
dizendo que ela
falava
siturdia cum esse
moço,
pru via dum má de
rengo...
e pru via duma dô.
Doutra feita, foi pru
via
duma grande narvragía
no miolo do coração!
Mas porêm já táva
bôa,
despois que o doutô
fisgou
nos dois braço uma
injérção.
(lá nela)... de fôia
seca,
e simente de gervão.
Despois, zangada, me
disse
que eu amava sem calô!!!
Que eu tinha sido o
prêmêro,
o prêmêro que ela
amou!
Que tinha munto
dinhêro
p'rá nós vive
afórgado,
sem se importa cum o
Lótéro,
nem cum o diabo do
doutô.
Entonce, apouzando o
braço
cá pru-riba do meu
hômbo,
sinti cumo uma friáge
nos grugumío do
istômbo!
Trimí, seu patrão,
trimí!
Mas porém, quando
outra vez
me catucou p'rá fugi,
não sei cumo não
morrí!
Ai, que moça tão
marvada,
mas porém... tão
bunitinha!
Despois, me disse no
uvido:
"Micuá, uma
boquinha!..."
Apois, juro a
vasmincê!...
Eu não sabía o
sintido
da palavra... Pode
crê!
Quando ela me disse o
que era,
gritei: "Dona
Cunceição!!!
"Não quero sabe
de nada!!!
Eu amo váincê, sá
dona,
cum todo este
coração,
que bate aqui neste
peito!
Não tire paluxo,
não!...
Não me farte cum o
arrêspeito!"
O sinhô Caracará,
que já tinha
alevantado,
uvíndo eu falá mais
arto,
cumo uma onça, num
sarto,
garrou na minha
gaitinha,
que nem cachorro
inraivado!
Eu fiquei ajuêiádo,
sem pude arrispirá,
vendo que o hôme
quiria
a sanfôninha quebrá!!!
Quando eu disse prô
padrinho
que a sua linda
afiada
foi e havéra de sê
sêmpe
cá pru mim
arrespeitada,
cumo sêmpe
arrespeitei,
o raio da iscumungada
me fez cum os dedo...
uma figa,
que eu nem sei cumo
fiquei!!
Seu patrão, não digo
nada!!!
A muié táva
ispritada!!!
O véio tinha o
insturmento
alevantado nas mão,
me óiando cumo o capêta,
cum uns óio de sucurí!
Foi quando, entonce, num
grito,
ela gritou: "Meu
padrinho,
este hôme sem
vrêgonha,
me achando sozinha
aqui,
me pidíu uma
boquinha,
me catucou p'ra fugi,
dizendo umas coisa fêia,
que váincê nem faz
indéa!"
O hôme entonce, o
mardito,
cumo uma féra acúáda,
fisgou-me im riba do
quengo
a minha gaita
adorada!
A minha gaita, a sanfôna
que eu não trocava pru
nada!
Quanto tempo, quantas
hora,
eu ali fiquei ansim!
E, quando dei fé de
mim,
táva no meio do véio
e duns cabra da
Fazenda,
que o diabo mandou
chamá!
Entonce levei no
lombo,
levei tanta
gurungumba,
cumo se fosse um
zabumba...
tanta corda de crôá,
que se eu vivesse cem
ano,
inda guardava siná!!!
Correu pru todo o
sertão
que o seu Quinca
Micuá
tinha tirado paluxo
cum a dona!... a miúdamurzélla,
afiada do Seu
Lótéro!...
A Sá dona Cunceição!
Todo mundo
preguntava:
"Cumo é que esse
Micuá,
um sanfônêro de nome,
foi se inxirí cum uma
moça,
que era noiva dum
doutô,
e afiada desse hôme?!"
Tudo virou contra
mim!
Fugi de lá do sertão,
da minha terra!... De
lá!!
Despois daquela
muxinga,
vim drúmindo pulos
mato,
im caminho da cidade,
ispinhando de sôdade
da minha pobre sanfôna,
que lá ficou
dispenáda
imbáxo do biribá!
Ai, quantas noite,
sosinho,
nos mato da minha
terra,
gemendo na
sanfôninha,
e de bariga prô á,
óiáva o céu e me ria
de vê cumo as
istrelinha
lá no céu táva a
sambá!
A vida é um samba,
patrão!
Apois, quem é que na
vida
samba mais?
É o coração!
Leva a cabeça
assuntando
todo o dia, mas porêm,
de noite, vái
discançá!
Somentes o coração,
ánte da gente nacê,
inté a gente morrê,
leva a sambá... a sambá!!!
O coração é fié!...
A cabeça, ai, a
cabeça
é que é maléva e
crué!
Foi a cabeça, foi ela
que me perdeu!... me
impuiôu!
Quantas vez o coração
não chorou... e...
arresmungou!
Dêxei a Luíza, a
Tudinha,
a Inluminata, a
Rosinha,
a Graciúna, a Lulu,
a Bastiana Sanhassú,
a Sanda, a
Felicidade,
a Vitoca das Sôdade,
a fia do Zé Chicão,
a Chica do Zé da
Serra,
a cabôca mais bunita
dos mato da minha
terra...
pru móde dessa
murzéla
ou dessa
miúdamurzéla,
dessa dona
Cunceição!!!
A Inluminata, a
Rosinha,
a Bastiana, a
Tudinha,
nenhuma sabía lê!
Mas porêm, p'ra quê? P'rá quê?l
Só p'rá vregônha perdê?!
P'rá jura farso e
mintí?!
P'rá cunvidá p'rá fugi?!
P'rá tê o
discaramento
de me querê dishonrá,
pidindo um bêjo, que
é coisa
que a gente não deve
dá,
sem prêmêro arrecebê
a santa benção de
Deus,
numa ingrêja, ao pé
do artá?!
Tudinha era uma muié
inguinorante,
sarvage!...
Tudo o que váincê
quisé!!
Mas porém, meu
patrãozinho,
aquilo é que era
muié!
Muié, que teve a
corage,
a corage, sim, sinhô,
duma noite, lá num
samba,
no meio de toda a
gente,
tira do pé a chinela,
a chinela. Seu doutô,
p'rá me castiga na
cara,
só pru via de eu tê
dado
p'rá uma cabôca uma
frô!
Isso, sim, é que é
muié!...
Isso, sim, é que é o
amô!!
A outra butou a rosa
nos cabelo, e,
orguiósa,
se pôs-se logo a sambá!
Mas porêm, aqui, na
cara,
ficou tômbêm outra
rosa,
vremêia, grande e
férmosa,
a frô da dô de
canela,
do disispero do amô,
o sina lá da chinela,
que tômbêm era uma
frô!
Óie, o ciúme é
treidô!
É o fio mais macriado
que tem a Amizade e o
Amô!
Seus pai, o Amô e a
Amizade,
tem munta e munta
vontade
de vê seu fio
inducado!
O minino é
discarado!!
Mas porém, óie!!... é
bom fío!
Quando ele vê sua mãe
e seu pai amachucado,
si da muié cá da Côrte
faz um bruto
assarvajado,
se faz dum hôme outro
bruto,
crué, disprepositado,
sêje, como eu, um
gaitêro,
ou sêje um doutô
fromádo,
quanto mais um
coração,
um coração de cabôca,
que não foi cirvilizado!?
Patrão, agora, eu
pregunto:
o que era aquilo? O
que era?
Vasmincê vái me dizê
que aquilo era
estupideza
da muié lá do
sertão!...
Que a muié tinha a fêrêza
dum urutu, duma féra!
E vasmincê tem rézão!
Era uma féra, firida
no fundo do coração!
Isto, sim, é que é
muié
que sabe, amá, meu
patrão!
Vindo do amô, do
ciúme,
das mãos do amô, das
mão dela,
ánte o sina da
chinela
na cara, cum um
bofetão,
que um bêjo, um bêjo
de Juda
na boca da Inducação!
A Tudinha não prendeu
a bate língua,
ispritada,
cumo essa moça
inducada,
que tinha o tempo
vadio!...
Mas porêm a Cunceição
não sabéa bate roupa,
cumo a Tudinha, a
cabôca,
lavando à bêra do
rio!!
Eu ánte quiria sê
a pedra adonde lavava
sua roupa a lavadêra,
do que sê todos os
livro
que ensinava a
Cunceição
p'ra falá tanta
porquêra!
A muié mais sem
vrêgonha
é a Sinhora
Inducação!
Inducação!!? Que hirizia!
Danada! Eu te
discunjuro,
im nome da Mãe de
Deus,
da Santa Virge Maria!
Os mato, as árve, as
choupana,
os rios, os córgo, a
boiada,
as roça e mais as
quêmada,
o machado, a foice, a
inxada,
a lua, as noite
istrelada,
as viola e as magua
chorada
no coração das tuada,
o canto da
passarada...
não pércisa de ti,
não!
Inducação!! Pru
piadade!
Tu nasceu cá na
cidade!!
Não vái mexê cum essa
gente
das terra do meu sertão.
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