A PARÓDIA
Os Males Públicos
(Paródia ao soneto "Mal Secreto", de Raimundo Correia)
Se a tísica que mata,
a fimatose
Se descobrir pudesse
pela face;
Se o mal que nos
corrói: tuberculose
No rosto do indivíduo
se estampasse;
Se o fumo que tragamos,
em alta dose,
Um escarro “tinto”
aos doentes provocasse,
Ou se, do “forte” que
a sua frente pose,
A objetiva o peito
penetrasse;
Se, entre ricos e
pobres, qualquer classe,
Dentre velhos,
adultos e meninos,
Conceito positivo se
firmasse.
“Quanta gente que ri
talvez chorasse”
Quanta gente, que
vive nos cassinos,
Talvez num sanatório
se encontrasse.
A.B.C. (Revista
"Careta", 1946)
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O ORIGINAL
O ORIGINAL
Mal Secreto
Se a cólera que
espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói
cada ilusão que nasce
Tudo o que punge,
tudo o que devora
O coração, no rosto
se estampasse;
Se se pudesse, o
espírito que chora,
Ver através da
máscara da face,
Quanta gente, talvez,
que inveja agora
Nos causa, então
piedade nos causasse!
Quanta gente que ri,
talvez, consigo
Guarda um atroz,
recôndito inimigo
Como invisível chaga
cancerosa!
Quanta gente que ri,
talvez existe,
Cuja ventura única
consiste
Em parecer aos outros
venturosa!
RAIMUNDO CORREIA
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