ORAÇÃO
Certa
ocasião, na mesa de uma estalagem, após um longo percurso, assentaram-se para jantar
várias passageiros de uma diligência.
No
grupo encontrava-se um austero e piedoso bispo, que não se cansava de proferir conselhos
e consolações aos seus companheiros de viagem, emitindo conceitos religiosos e
pregando a resignação, cada vez que se lhe deparava uma oportunidade.
Em
dado momento, porém, ao servir-se da comida, o bispo teve a pouca sorte de pegar
num prato tão quente, que chegou a queiram-lhe os dedos.
Apesar
da sua qualidade de ministro de Deus, o prelado não se conteve e deixou escapar
uma enxurrada de pragas e ditos muito pouco episcopais.
Um
dos presentes que recebera conselhos do padre, num instante em que se exaltara,
puxou de um caderninho, a lápis, rápido, começou a escrever alguma coisa, olhando
para religioso.
Este
perguntou-lhe:
—
Que está a escrever aí, irmão?
E
o interpelado, com toda a calma:
—
Estou apenas tomando notas, para não me esquecer da oração que vossa excelência
acaba de proferir, Sr. bispo, contra queimaduras.
Jornal “O Estado”, 1936.
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