A PARÓDIA
Minha Terra
(Paródia
ao poema "Minha Terra", de Casimiro de Abreu)
"Todos cantam sua terra",
só posso chorar a
minha,
"nas débeis cordas
da lira";
ela que já foi
rainha,
hoje morre de
pobreza,
vítima da safadeza
de uma corja, em
que a torpeza
“esmerou-se em
quanto tinha!”
Correi-a de norte
a sul:
seu aspecto
senhoril,
de outrora, não
mais existe,
já nem parece
Brasil!...
É um coito de
malfeitores,
uma senzala de
horrores,
que tresanda maus odores
das chagas de
formas mil!
Tem tantas
mazelas, tantos,
"a minha
terra natal",
que, nesse mundão
de Cristo,
não haverá outra
igual!
Pobre terra,
desgraçada,
corrompida,
espoliada,
hoje vilipendiada,
verdadeiro
tremedal!
Que dirá Deus, que
a fadou
a primeira entre
as primeiras,
dando-lhe rios,
que a enleiam
nos braços das
corredeiras,
e um sol candente,
que a beija,
com ardor de quem
deseja,
"quando o
vento rumoreja"
sobre os leques
das palmeiras?!
Soçobraria seu
povo
nas águas do Guarujá?
Que é feito de sua
bravura,
seu pundonor onde
está?
De cabanos
descendente,
por que será que
essa gente
vive agora
indiferente,
— Ó nobre e altivo
Pará?!...
Belém, cidade
formosa,
garrida, alegre,
faceira,
desaparece atolada
na mais incrível
sujeira!
Paraíso da batota,
onde um malandro
janota
a bolsa do pobre
esgota
para a gulosa
algibeira!
Falta-lhe luz,
água, carne,
e, até mesmo o açaí
— subindo preço
astronômico —
é manjar de luxo
ali!
Funcionalismo
atrasado
em três meses de
ordenado;
e... quem quiser
ser poupado,
faça boca de siri!
Entretanto, noutro
tempo,
por muito menos do
que isso,
os valente
paraenses
Ficaram em
reboliço:
deram cabo do Iemismo,
uma espécie de fascismo,
cujo, grande
absolutismo
teve força de
feitiço!
Foi de lá que, a Floriano
— contra seu golpe
de Estado —
do doutor Lauro
Sodré,
democrata
rebelado,
primeiro protesto
veio!
Da liberdade um
esteio
tornou-se o Pará,
em meio
ao tufão
desencadeado!
Quando eu nasci, esse
fato
inda era lá
comentado:
citavam-no como
exemplo
do civismo
consagrado!
Agora, um tal de
Barata,
sob o porrete e a
chibata,
aquela gente
pacata
desfibrou, o
desalmado!
AUTOR ANÔNIMO
Revista “Careta”,
1949.
---
O ORIGINAL
O ORIGINAL
Minha Terra
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
G. DIAS.
Todos cantam sua
terra,
Também vou cantar
a minha,
Nas débeis cordas
da lira
Hei de fazê-la
rainha;
— Hei de dar-lhe a
realeza
Nesse trono de
beleza
Em que a mão da
natureza
Esmerou-se em
quanto tinha.
Correi pr'as
bandas do sul:
Debaixo dum céu de
anil
Encontrareis o
gigante
Santa Cruz, hoje
Brasil;
— É uma terra de
amores
Alcatifada de
flores,
Onde a brisa fala
amores
Nas belas tardes
de abril.
É um país
majestoso
Essa terra de
Tupá,
Desd'o Amazonas ao
Prata,
Do Rio Grande ao
Pará!
— Tem serranias
gigantes
E tem bosques
verdejantes
Que repetem
incessantes
Os cantos do
sabiá.
Quando Dirceu e
Marília
Em terníssimos
enleios
Se beijavam com
ternura
Em celestes
devaneios;
Da selva o vate
inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira
pousado
Soltava ternos
gorjeios.
Foi ali, foi no
Ipiranga,
Que com toda a
majestade
Rompeu de lábios
augustos
O brado da
liberdade;
Aquela voz
soberana
Voou na plaga
indiana
Desde o palácio à
choupana,
Desde a floresta à
cidade!
Um povo ergueu-se
cantando
— Mancebos e
anciãos —
E, filhos da mesma
terra,
Alegres deram-se
as mãos;
Foi belo ver esse
povo
Em suas glórias
tão novo,
Bradando cheio de
fogo:
— Portugal! somos
irmãos!
Quando nasci, esse
brado
Já não soava na
serra
Nem os ecos da
montanha
Ao longe diziam —
guerra!
Mas não sei o que
sentia
Quando, a sós, eu
repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha
terra!
CASIMIRO DE ABREU
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