12/14/2018

Minha Terra (Paródia ao poema "Minha Terra", de Casimiro de Abreu)


A PARÓDIA

Minha Terra
 (Paródia ao poema "Minha Terra", de Casimiro de Abreu)

 "Todos cantam sua terra",
só posso chorar a minha,
"nas débeis cordas da lira";
ela que já foi rainha,
hoje morre de pobreza,
vítima da safadeza
de uma corja, em que a torpeza
“esmerou-se em quanto tinha!”

Correi-a de norte a sul:
seu aspecto senhoril,
de outrora, não mais existe,
já nem parece Brasil!...
É um coito de malfeitores,
uma senzala de horrores,
que tresanda maus odores
das chagas de formas mil!

Tem tantas mazelas, tantos,
"a minha terra natal",
que, nesse mundão de Cristo,
não haverá outra igual!
Pobre terra, desgraçada,
corrompida, espoliada,
hoje vilipendiada,
verdadeiro tremedal!

Que dirá Deus, que a fadou
a primeira entre as primeiras,
dando-lhe rios, que a enleiam
nos braços das corredeiras,
e um sol candente, que a beija,
com ardor de quem deseja,
"quando o vento rumoreja"
sobre os leques das palmeiras?!

Soçobraria seu povo
nas águas do Guarujá?
Que é feito de sua bravura,
seu pundonor onde está?
De cabanos descendente,
por que será que essa gente
vive agora indiferente,
— Ó nobre e altivo Pará?!...

Belém, cidade formosa,
garrida, alegre, faceira,
desaparece atolada
na mais incrível sujeira!
Paraíso da batota,
onde um malandro janota
a bolsa do pobre esgota
para a gulosa algibeira!

Falta-lhe luz, água, carne,
e, até mesmo o açaí
— subindo preço astronômico  
é manjar de luxo ali!
Funcionalismo atrasado
em três meses de ordenado;
e... quem quiser ser poupado,
faça boca de siri!

Entretanto, noutro tempo,
por muito menos do que isso,
os valente paraenses
Ficaram em reboliço:
deram cabo do Iemismo,
uma espécie de fascismo,
cujo, grande absolutismo
teve força de feitiço!

Foi de lá que, a Floriano
— contra seu golpe de Estado —
do doutor Lauro Sodré,
democrata rebelado,
primeiro protesto veio!
Da liberdade um esteio
tornou-se o Pará, em meio
ao tufão desencadeado!

Quando eu nasci, esse fato
inda era lá comentado:
citavam-no como exemplo
do civismo consagrado!
Agora, um tal de Barata,
sob o porrete e a chibata,
aquela gente pacata
desfibrou, o desalmado!

AUTOR ANÔNIMO
Revista “Careta”, 1949.



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O ORIGINAL
Minha Terra

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
G. DIAS.

Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;
— Hei de dar-lhe a realeza
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se em quanto tinha.

Correi pr'as bandas do sul:
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
— É uma terra de amores
Alcatifada de flores,
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de abril.

É um país majestoso
Essa terra de Tupá,
Desd'o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!
— Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.

Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios;
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.

Foi ali, foi no Ipiranga,
Que com toda a majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!

Um povo ergueu-se cantando
— Mancebos e anciãos —
E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos;
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Bradando cheio de fogo:
— Portugal! somos irmãos!

Quando nasci, esse brado
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam — guerra!
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra!

CASIMIRO DE ABREU

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