A
PARÓDIA
Marido Cativo
(Paródia
ao soneto “Pássaro Cativo”, de Olavo Bilac)
Armas, uma
cilada, num momento.
E, em breve, um
pobre moço descuidado
Cai no laço e te
pede em casamento!
Dás, então, por
abrigo ao teu amado,
Um lar
abençoado.
Dás-lhe acepipes,
beijos e tudo.
— Por que é que,
tendo tudo, há de ficar
O rapazinho mudo,
Agoniado e
triste, sem faltar?
“É que, mulher,
os casados não falam:
Resmungando
apenas, sua raiva calam,
Sem que as
esposas vejam seu sofrer...
Se os casados
falassem,
Talvez os teus
ouvidos escutassem
O que eles,
coitados, querem dizer:
Não quero o teu
quitute!
Muito mais
aprecio os que se come
No restaurante
fatal em que me viste.
Porque além de
ser bom, me mata a fome
Que os feitos
por ti;
Tenho doces e beijos
Sem precisar de
ti;
Não quero o teu
quarto atapetado,
Pois nada me põe
tão arreliado
Que ter
conhecido a sogra que conheci!
Prefiro o bar humilde
e frequentado.
De mesas toscas
e de chão furado.
Entre as risadas
francas dos amigos.
Deixa-me! Quero
a vida
De solteiro,
anseio por uma festa!
Com que direito à
reclusão me obrigas?
Quero dançar um
"fox", ao som de orquestra!
Quero viver a
vida já vivida!
Quero à tarde,
ao voltar,
Não ver lua mãe em
casa; nem ter brigas.
Por que não
mandas embora aquele azar?
Não me roubes
assim a liberdade!
Deixa-me dar um
passeio na cidade!
Quero gozar!
gozar!...”
Essas cousas o
esposo te diria,
Se pudessem os
casados se queixar...
A tua calma,
mulher, falharia
Com essa
escravidão;
E a tua mão,
ansiosa, lhe abriria
O trinco do
portão.
MAGDA ROCHA
Revista “O Malho”,
1929.
---
O ORIGINAL
O pássaro cativo
Armas, num galho
de árvore, o alçapão
E, em breve, uma
avezinha descuidada,
Batendo as asas
cai na escravidão.
Dás-lhe então,
por esplêndida morada,
Gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste,
e água fresca, e ovos e tudo.
Por que é que,
tendo tudo, há de ficar
O passarinho
mudo,
Arrepiado e
triste sem cantar?
É que, criança,
os pássaros não falam.
Só gorjeando a
sua dor exalam,
Sem que os
homens os possam entender;
Se os pássaros
falassem,
Talvez os teus
ouvidos escutassem
Este cativo
pássaro dizer:
"Não quero
o teu alpiste!
Gosto mais do
alimento que procuro
Na mata livre em
que voar me viste;
Tenho água
fresca num recanto escuro
Da selva em que
nasci;
Da mata entre os
verdores,
Tenho frutos e
flores
Sem precisar de
ti!
Não quero a tua
esplêndida gaiola!
Pois nenhuma
riqueza me consola,
De haver perdido
aquilo que perdi...
Prefiro o ninho
humilde construído
De folhas secas,
plácido, escondido.
Solta-me ao
vento e ao sol!
Com que direito
à escravidão me obrigas?
Quero saudar as
pombas do arrebol!
Quero, ao cair
da tarde,
Entoar minhas
tristíssimas cantigas!
Por que me
prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por
gaiola a imensidade!
Não me roubes a
minha liberdade...
Quero voar!
Voar!
Estas cousas o
pássaro diria,
Se pudesse
falar,
E a tua alma,
criança, tremeria,
Vendo tanta
aflição,
E a tua mão
tremendo lhe abriria
A porta da
prisão...
OLAVO BILAC
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