A PARÓDIA
Círculo Vicioso
Vagando à toa, geme
um simples vagabundo:
"Quem me dera
que fosse algum dia o Intendente
Que vota, no
Conselho, o imposto sobre a gente!..."
Mas o Intendente, egoísta,
exclama em tom profundo:
"Se eu fosse
Deputado... o quanto neste mundo,
Não seria feliz,
folgando, a rir contente!..."
Suspira o Deputado: —
"Eu quisera, somente,
A Senador chegar, por
meu gênio fecundos!..."
O Senador, também por
sua vez, anseia:
"Se eu fosse Presidente...
Eu cavaria a fundo
Para gastar à beça e
andar de pança cheia!..."
No entanto, o Presidente,
às vezes, furibundo
Exclama, quando vê
que a coisa é mesmo feia:
"Porque no nasci
eu um simples vagabundo?..."
"K. LUNGA"
Revista D. Quixote,
1917.
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O ORIGINAL
Círculo Vicioso
Bailando no ar, gemia
inquieto vaga-lume:
“Quem me dera que
fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno
azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela,
fitando a lua, com ciúme:
“Pudesse eu copiar-te
o transparente lume,
Que, da grega coluna
à gótica janela,
Contemplou,
suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o
sol, com azedume:
“Mísera! Tivesse eu
aquela enorme, aquela
Claridade imortal,
que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando
a rútila capela:
“Pesa-me esta
brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e
desmedida umbela…
Por que não nasci eu
um simples vaga-lume?”
MACHADO DE ASSIS
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