A PARÓDIA
Aparências
(Paródia ao poema “Mal Secreto”, de Raimundo Correia)
Se tudo que no
estômago se abriga
E ele oculta com
tanta discrição;
Se tudo que se
bebe e se mastiga
Não ficasse em
profunda escuridão;
Se aquilo com que a
fome se mitiga
Sofresse à nossa
vista a digestão,
Quanta ente que o
rei traz na barriga
Correria da parca
refeição!
Quanta gente que
eruta coisas caras
O bucho pouco
menos que vazio
Ocultar buscaria
dos presentes!
Quanta gente, em
camisa de onze varas,
Depois de magro
almoço de assobio,
Vem para a rua
palitando os dentes!
AUTOR ANÔNIMO
Revista “Careta”,
1943.
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O ORIGINAL
Mal Secreto
Se a cólera que
espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói
cada ilusão que nasce
Tudo o que punge,
tudo o que devora
O coração, no
rosto se estampasse;
Se se pudesse, o
espírito que chora,
Ver através da
máscara da face,
Quanta gente,
talvez, que inveja agora
Nos causa, então
piedade nos causasse!
Quanta gente que
ri, talvez, consigo
Guarda um atroz,
recôndito inimigo
Como invisível
chaga cancerosa!
Quanta gente que
ri, talvez existe,
Cuja ventura única
consiste
Em parecer aos
outros venturosa!
RAIMUNDO CORREIA
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