12/11/2018

A Roleta (Paródia do poema "Abyssus", de Olavo Bilac)


A PARÓDIA

A Roleta
(Paródia do poema "Abyssus", de Olavo Bilac)

Bela e traidora! Beijas e assassinas!
Quem te conhece, em ânsias de loucura,
Ama-te; e passa nessa travessura
Entre fortunas que se tornam ruínas.

Seduzes e convidas e fascinas
Como o ser no governo, alta figura;
Que apresenta projetos, que assegura,
Dos seus chorosos filhos, ricas sinas.

O jogador ansioso vendo a bola,
A rodar, a girar constantemente,
Perde tudo que tem... perde a cachola.

Falta-lhe o capital e a sorte avessa!
Pede emprestado e joga novamente,
E sua e torce e leva na cabeça!

"H. LINHA"
Revista "Dom Quixote", 1917.


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O ORIGINAL

Abyssus

Bela e traidora! Beijas e assassinas...
Quem te vê não tem forças que te oponha
Ama-te, e dorme no teu seio, e sonha,
E, quando acorda, acorda feito em ruínas...

Seduzes, e convidas, e fascinas,
Como o abismo que, pérfido, a medonha
Face apresenta flórida e risonha,
Tapetada de rosas e boninas.

O viajor, vendo as flores, fatigado
Foge o sol, e, deixando a estrada poenta,
Avança incauto... Súbito, esbroado,

Falta-lhe o solo aos seus pés: recua e corre,
Vacila e grita, luta e se ensanguenta,
E rola, e tomba, e se espedaça, e morre...

OLAVO BILAC

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