A PARÓDIA
A Roleta
(Paródia do poema "Abyssus", de Olavo Bilac)
Bela e traidora!
Beijas e assassinas!
Quem te conhece, em
ânsias de loucura,
Ama-te; e passa nessa
travessura
Entre fortunas que se
tornam ruínas.
Seduzes e convidas e
fascinas
Como o ser no
governo, alta figura;
Que apresenta projetos,
que assegura,
Dos seus chorosos
filhos, ricas sinas.
O jogador ansioso
vendo a bola,
A rodar, a girar
constantemente,
Perde tudo que tem...
perde a cachola.
Falta-lhe o capital e
a sorte avessa!
Pede emprestado e
joga novamente,
E sua e torce e leva
na cabeça!
"H. LINHA"
Revista "Dom Quixote", 1917.
Revista "Dom Quixote", 1917.
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O ORIGINAL
Abyssus
Bela e traidora!
Beijas e assassinas...
Quem te vê não tem
forças que te oponha
Ama-te, e dorme no
teu seio, e sonha,
E, quando acorda,
acorda feito em ruínas...
Seduzes, e convidas,
e fascinas,
Como o abismo que,
pérfido, a medonha
Face apresenta
flórida e risonha,
Tapetada de rosas e
boninas.
O viajor, vendo as
flores, fatigado
Foge o sol, e,
deixando a estrada poenta,
Avança incauto...
Súbito, esbroado,
Falta-lhe o solo aos
seus pés: recua e corre,
Vacila e grita, luta
e se ensanguenta,
E rola, e tomba, e se
espedaça, e morre...
OLAVO BILAC
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