A PARÓDIA
A Minha Sogra
(Paródia de um soneto de Camões)
Sogra minha infernal, que te partiste
Tão tarde deste mundo
descontente;
Repousa lá no
inferno, eternamente,
Se do inferno a
fornalha a ti resiste!
Tu que a vida
fizeste-me tão triste
Torturando-me os dias
cruelmente,
Esquece-me de vez, ou
então somente
Lembra o ódio que em
mim tão puro viste
Mas, se mudaste... e
pode merecer-te
Alguma coisa a dor
que me ficou
De tarde e só bem tarde enfim perder-te;
Pede a Deus, que os
teus dias alongou,
Que me poupe o suplício
de inda ver-te
Já que de mim tão
tarde te apartou.
Revista do Brasil (1908)
---
O ORIGINAL
Alma minha gentil, que te partiste
Alma Minha Gentil,
que te partiste
Alma minha gentil,
que te partiste
Tão cedo desta vida
descontente,
Repousa lá no Céu
eternamente,
E viva eu cá na terra
sempre triste.
Se lá no assento
Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se
consente,
Não te esqueças
daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus
tão puro viste.
E se vires que pode
merecer-te
Alguma cousa a dor
que me ficou
Da mágoa, sem
remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus
anos encurtou,
Que tão cedo de cá me
leve a ver-te,
Quão cedo de meus
olhos te levou.
LUÍS DE CAMÕES
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...