A gralha
começou a disputar com o sabiá afirmando que sua voz valia mais que a dele.
Como as outras aves se rissem daquela pretensão, a barulhenta matraca de penas
gralhou furiosa:
− Nada de
brincadeiras! Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um
juiz. O sabiá canta, eu canto, e uma sentença decidirá quem é o melhor cantor.
Topam?
− Topamos! –
piaram as aves. Mas quem servirá de juiz?
Estavam a
debater este ponto quando zurrou ao longe um burro.
− Nem de
encomenda! – exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima ordem para
julgamento da música, porque nenhum animal possui orelhas daquele tamanho.
Concedemo-lo para julgar a causa.
O burro
aceitou o juizado e veio postar-se no centro da roda.
− Vamos lá,
comecem! – ordenou ele.
O sabiá deu
um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam os sabiás, repicando
os trinos mais melodiosos e límpidos.
− Agora eu!
– disse a gralha, dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou um
berreiro de romper os tímpanos aos próprios surdos.
Terminada a
prova, o juiz abanou as orelhas e deu a sentença:
− Dou ganho
de causa a Dona Gralha, que canta muito melhor que mestre sabiá.
Quem burro nasce, togado ou não, burro
morre.
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Fonte:
Fonte:
Do livro "Fábulas e Histórias diversas"Pesquisa e adequação
ortográfica: Iba Mendes (2018
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