Como a onça
estivesse para casar-se, os animais todos andavam aos pulos, radiantes, com
olho na festa prometida. Só uma velha rã sabidona torcia o nariz àquilo.
O marreco
observou-lhe o trejeito e disse:
— Grande
enjoada! Que cara feia é essa, quando todos nós pinoteamos alegres no antegozo
do festão?
— Por um
motivo muito simples — respondeu a rã. Porque nós, como vivemos quietas, a
filosofar, sabemos muito da vida e enxergamos mais longe do que vocês.
Responda-me a isto: se o sol se casasse e em vez de torrar o mundo sozinho o
fizesse ajudado por dona sol e por mais vários sóis filhotes? Que aconteceria?
— Secavam-se
todas as águas, está claro.
— Isto
mesmo. Secavam-se as águas e nós, rãs e peixes, levaríamos a breca. Pois
calamidade semelhante vai cair sobre vocês. Casa-se a onça, e já de começo será
ela e mais o marido a perseguirem os animais. Depois aparecem as oncinhas — e
os animais terão que aguentar com a fome de toda a família. Ora, se um só
apetite já nos faz tanto mal, que será quando forem três, quatro e cinco?
O marreco
refletiu e concordou:
— É isso
mesmo...
Pior que um inimigo, dois; pior que dois,
três...
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Fonte:
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Do livro "Fábulas e Histórias diversas"
Pesquisa e adequação
ortográfica: Iba Mendes (2018)
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