Já houve,
entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a
repeliu de sua porta.
Foi isso na
Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com seu cruel manto de
gelo.
A cigarra,
como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro e o inverno veio
encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se nem folhinha que
comesse.
Desesperada,
bateu à porta da formiga e implorou – emprestado, notem! – uns miseráveis restos
de comida. Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o
tempo o permitisse.
Mas a
formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse
cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.
– Que fazia
você durante o bom tempo?
– Eu… eu
cantava!…
– Cantava?
Pois dance agora, vagabunda! – e fechou-lhe a porta no nariz.
Resultado: a
cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo
apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som
estridente daquela cigarra, morta por causa da avareza da formiga. Mas se a
usurária morresse, quem daria pela falta dela?
Os artistas, poetas, pintores e músicos são
as cigarras da humanidade.
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Fonte:
Do livro "Fábulas e Histórias diversas"
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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