A vida, a obra, a sensibilidade e a natureza desse estranho e harmonioso poeta, que foi B. Lopes, tiveram, agora, no livro de Renato de Lacerda — “Um poeta singular”, a glorificação e o estudo, que estava a merecer, por tantos títulos, o autor de Brasões.
B. Lopes, fluminense de Rio Bonito, cujo berço foi o arraial de Boa Esperança, hoje Imbiara, figura, realmente, entre os mais espontâneos poetas de nossa terra, pela riqueza do estro, pela simplicidade das imagens, pelas atitudes despretensiosas, com que sempre se apresentou no tumulto das vaidades intelectuais.
Seus Cromos, de sedutora e maviosa singeleza, refletem a vida bucólica da aldeia natal do poeta, cuja natureza verde e cujos ingênuos costumes rurais inspiraram esses versos cheios de colorido e de beleza, que são verdadeiras pinturas em sonetos, com o perfume agreste das paisagens e o encanto dos hábitos de Boa Esperança, onde, a 19 de janeiro de 1859, nasceu Bernardino da Costa Lopes, pobre de dinheiro, mas rico de talento.
Leiamos um desses deliciosos "cromos”, que enriquecem e ilustram tantas antologias, e que Renato de Lacerda transcreve em seu livro:
Amanhecera. O tropeiro
passa, cantando, na estrada;
no seu casebre o roceiro
Prepara as foices e a enxada.
Ao rumor a luz casada
enche de vida o terreiro;
parecem bruma cerrada
as flores, lá! do espinheiro...
Aspira-se o olor suave
do bom café... Alto e grave
bate o pilão nas cozinhas.
Há, junto à horta, uns barrancos,
onde a mulher, de tamancos,
distribui milho às galinhas.
Renato de Lacerda, cuja modéstia no consegue encobrir seu valor literário, de ensaísta e poeta, presta, com “Um poeta singular”, um grande serviço às letras brasileiras, à nossa história literária e à sua fecunda e gloriosa terra fluminense, onde já brotaram tantos frutos opimos da mentalidade brasileira.
Revista Fon-Fon, 8 de outubro de 1949.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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