Autor: Rabindranath Tagore
Tradutor: Bastos Portela
Ano: 1925.
Se queres, meu amor, deixarei
de cantar...
Se te assusto, se acaso eu te
inspiro receio,
cegarei, para que não mais te
possa olhar.
Se venho perturbar o teu
recreio,
eu fugirei de ti, por um outro
caminho...
E seguirei sozinho,
alheio ao mundo, alheio à
vida, a tudo alheio...
Se te esquivas de mim,
às vezes, quando estás
colhendo flores,
no teu jardim solitário,
no teu lindo jardim,
meu amor, nunca mais irei por
onde fores,
nem nunca mais irei ao teu
jardim...
No ar, dorme um perfume...
Paira um silêncio vago...
Ah, se o meu barco faz rumor
n'água do Iago,
fala! Fala em segredo, num queixume...
E eu não mais singrarei a água
azul do teu Iago...
Que é do teu coração?
Anda... Abre-o sem medo!
Põe tua alma de flor, aqui, na
minha mão...
Dize-me o teu segredo!
Dize-o a mim, só a mim, que sou
teu grande amigo...
E eu te ouvirei também com a
minha alma na mão...
A noite desce, docemente...
A casa está deserta e
silenciosa.
O sono embala os ninhos... Solidão!
Anda. Dize baixinho o que tua
alma sente...
Dize-o, num choro vacilante,
ou num sorriso triste de emoção...
Dize, numa ternura dolorosa,
o segredo de amor que tens no
coração...
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Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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