CAPÍTULO 1
Sizenando Capistrano é o inspetor
agrícola do vigésimo distrito. Incumbe-lhe fomentar a pecuária, elaborar relatórios,
ensinar o uso de máquinas agrícolas, preconizar a policultura, combater a rotina
e ao fim de cada mês perceber na coletoria a realidade de setecentos mil-réis.
Antes de inspetor Capistrano fora
poeta. Cultivara as musas. Não sabia que coisa era pé de café, mas entendia de pés
métricos, pés-quebrados e fazia pé de alferes a todas as divas do Parnaso. Tal cultura,
entretanto, emagrecia-o. A sua produção de endecassílabos, alexandrinos, quadras,
odes, sonetos, poemas, vilancetes, églogas, sátiras, anagramas, logogrifos, charadas
elétricas e enigmas pitorescos, conquanto copiosa, não lhe dava pão para a boca,
nem cigarro para o vício. A palidez de Capistrano, sua cabeleira à Alcides Maia,
sua magreza à Fagundes Varela, seu spleen
à Lord Byron e suas atitudes fatais, ao invés de lhe aureolarem a face dos nimbos
da poesia, comiseravam o burguês, que, ao vê-lo deslizar como alma penada pela cidade,
horas mortas, de mãos no bolso e olho nostalgicamente ferrado na lua, murmurava
condoído:
— Não é poesia, não, coitado, é fome...
O editor artilhava a cara de carrancas
más quando Capistrano lhe surgia escritório adentro com a maçaroca de versos candidatos
à edição.
— São versos puros, senhor, versos
sentidos, cheios de alma. Virão enriquecer o patrimônio lírico da humanidade.
— E arruinar o meu patrimônio econômico
— retorquia a fera. — Do lirismo bastam-me aquelas prateleiras que editei no tempo
em que era tolo e não se vendem nem a peso.
— Ó vil metal! — murmurava o poeta,
franzindo os lábios num repuxo de supremo enojo. — Ó mundo vil! Ó torpe humanidade!
Em que te distingues, Homem, rei grotesco da criação, do suíno toucinhento que espapaça
nos lameiros? Manes de Juvenal! Eumênides! Musas de Cólera! Inspirai-me versos candentes
com que cauterize até aos penetrais da alma este verme orgulhoso e mesquinho! Baudelaire,
dá-me os teus venenos...
— Rapazes — berrava o livreiro à caixeirada
—, ponham-me este vate no olho da rua!
Ante o manu militari irretorquível, o poeta apanhava a papelada lírica e moscava-se
para a zona neutra do passeio, onde, readquirida altivez ossiânica, objurgava para
dentro da loja hostil:
— A Posteridade me vingará, javardos!
E sacudia à porta do editor o pó das
suas sandálias, que no caso eram surradas e já risonhas botinas de bezerro. Em seguida,
remessando para trás a cabeleira, num repelão, ia fincar-se sinistramente à esquina
próxima, em torva atitude, à espera dum conhecido esfaqueável, a quem, com gestos
soberbos de Bergerac, extorquisse um níquel.
Cansado, entretanto, de ouvir estrelas
em jejum, de amar a lua no céu sem possuir um queijo na terra, acatou a voz do estômago
e quebrou a lira — para viver. Meteu a tesoura nas melenas, deu brilho aos sapatos,
desfatalizou o semblante, substituiu o ar absorto do aedo pelo ar avacalhado do
pretendente, e à força de pistolões guindou-se às cumeadas do Morro da Graça. Todo
mundo o recomendou ao Gaúcho Onipotente, porque todos andavam fartos daquela perpétua
fome lírica a deambular pelas ruas, caçando rimas e filando cigarros. Que fosse
acarrapatar-se ao Estado. O Estado é um boi gordo, semelhante àquela estátua equestre
de Hindenburg, feita de madeira, em que os alemães pregavam pregos de ouro. A diferença
está em que no Estado, em vez de tachas de ouro, pregam-se Capistranos vivos.
Foi apresentado ao Pinheiro.
— Então, menino, que quer?
— Um empreguinho qualquer que Vossa
Onipotência haja por bem conceder-me.
— E para que presta você, menino?
— Eu? Eu... fui poeta. Cantei o amor,
a Mulher, a Beleza, as manhãs cor-de-rosa, as auroras boreais, a natureza, enfim.
Romântico, embriaguei-me na Taverna de Hugo. Clássico, bebi o mel do Himeto pela
taça de Anacreonte. Evoluído para o parnasianismo, burilei mármores de Paros com
os cinzéis de Herédia. Quando quebrei a lira, estava ascendendo ao cubismo transcendental.
Sim, general, sou um gênio incompreendido, novo Asverus a percorrer todas as regiões
do ideal em busca da Forma Perfeita. Qual Prometeu, vivi atado ao potro do Inania Verba, onde me roeu o Abutre da Perfeição
Suprema. Fui um Torturado da Forma...
O general, que era amigo das belas
imagens, iluminou o rosto de um sorriso promissor.
— Poeta — disse ele —, eu também sou
poeta. Rimo homens. Componho poemas herói-cômicos. Conheces a Hermeida? É obra minha. Amo as belas imagens
e tenho lançado algumas imortais. “A mulher de César!” “Os levitas do Alcorão!”
Hein? Tu me caíste em graça e, pois, acolho-te sob o meu pálio. Que queres ser?
— Inspetor.
— De quarteirão?
— Isso não.
— Agrícola?
— Ou avícola...
— De que região?
— Não faço questão.
— Sê-lo-ás do vigésimo distrito. Conheces
as culturas rurais?
— Já cultivei batatas gramaticais.
— E de pecuária, entendes? Distingues
um Zebu dum galo Brama? Um pampa dum murzelo?
— Já cavalguei Pégaso em pelo.
— Conheces a suinocultura? Sabes como
se cria o canastrão?
— Sei trincá-lo com tutu de feijão.
— És um gênio, não há que ver. Talvez
faça de ti, um dia, presidente da República. Teu nome?
— Sizenando. Capistrano é sobrenome.
— Cá me fica. Vai, que estás aí, estás
fomentando a agricultura como inspetor do vigésimo distrito, com setecentos bagos
por mês. Os poetas dão ótimos inspetores agrícolas e tu tens dedo para a coisa.
Vai, levita do Ideal...
CAPÍTULO 2
Sizenando Capistrano, mal se pilhou
transformado de famélico ouvidor de estrelas em peça mestra do Ministério da Agricultura...
casou, luademelou três meses e por fim compareceu perante o ministro para saber
em que rumos nortear a sua atividade.
O ministro franziu a testa: é tão
difícil dar ocupação aos fósforos ministeriais... Pensou um bocado e:
— Escreva um relatório — sugeriu.
— Sobre que, excelência?
— Sobre qualquer coisa. Relate, vá
relatando. A função capital do nosso ministério é produzir relatórios de arromba
sobre o que há e o que não há. Relate.
— Mas, excelência, eu desejava ao
menos uma sugestãozinha emanada do alto critério de vossa excelência, sobre o tema
do relatório que a bem da lavoura vossa excelência, com tanto descortino, me incumbe
de escrever...
— Já disse: sobre qualquer coisa que
lhe dê na veneta. Relate, vá relatando e depois apareça.
Sizenando saiu tonto com os processos
expeditos do doutor Grifado com assento na pasta, e passou três meses de papo ao
ar, procurando uma tese conveniente.
Como por essa época a lua de mel entrasse
em plena minguante, houve certo dia rusga brava ao jantar, e a consorte, mulherzinha
de pelo crespo no nariz, pespegou-lhe pela cara com um prato de salada de beldroega.
Tal o célebre estalo que abriu a inteligência do padre Antônio Vieira em menino,
aquele obus culinário teve a estranha ação de iluminar os refolhos cerebrais do
inspetor.
— Eureca! — berrou ele radiante. E
com um grande riso de gozo na cara emplastada de verdura, ergueu-se da mesa precipitadamente
e correu ao escritório. A mulherzinha, entre colérica e pasmada, perguntou de si
para si:
— Estará louco?
Sizenando deitou mãos à tarefa e levou
a cabo um estudo botânico-industrial da beldroega, com afã tal que, transcorridos
dez meses, dava a prelo o Relatório sobre
o Papalvum brasiliensis, vulgo beldroega, e sua aplicação na culinária.
O ano seguinte gastou-o em rever as
provas do calhamaço, a modo de escoimá-lo dos mínimos vícios de linguagem. O antigo
torturado da Forma ressurtia ali... Saiu obra papa-fina, em ótimo papel e com muitas
gravuras elucidativas. Entre estas, em belo destaque, os retratos do ministro e
do diretor da Agricultura, do Marechal Hermes, do tenente Pulquério, do Frontim,
do Pinheiro e mais protuberantes beldroegas do momento. Pronta a edição, embaraçou-se
Sizenando quanto ao destino a dar-lhe. Que fazer de tanta beldroega?
Foi ao ministro.
— Excelência! De acordo com as sábias
ordens de vossa excelência, venho comunicar a vossa excelência que se acha pronta
a edição do relatório sobre o Papalvum.
— Que papalvo? Que relatório? — inquiriu
o ministro, deslembrado.
— O que vossa excelência me incumbiu
de escrever.
— Quando?
— Haverá dois anos.
— Não me recordo, mas é o mesmo. Mande
a papelada para o forno de incineração da Casa da Moeda.
Sizenando abriu a maior boca deste
mundo. Compreendendo aquela estuporação, o ministro sorriu.
— Então? Que queria que eu fizesse
de cinco mil exemplares de um relatório sobre a beldroega? Que o pusesse à venda?
Ninguém o compraria. Que o distribuísse grátis? Ninguém o aceitaria. Se é assim,
se sempre foi assim, se sempre será assim com todas as publicações deste ministério,
o mais prático é passar a edição diretamente da tipografia ao forno. Isso evitará
a maçada de nos preocuparmos com ela e de a termos por aí a atravancar os arquivos.
Não acha vossa senhoria que é o mais razoável? Retire o que quiser e forno com o
resto.
— E depois, que devo fazer? — indagou
Sizenando, ainda tonto com o expeditismo ministerial.
— Escrever outro relatório — respondeu
sem vacilar o ministro.
— Para ser queimado novamente? — atreveu-se
a murmurar o poeta-inspetor.
— Está claro, homem! Para que diabo
despendeu o Governo tanto dinheiro na montagem do forno? Está claro que para incinerar
as notas velhas e os relatórios novos. Deste modo se conservam em perpétua atividade
o pessoal da Imprensa, o do Forno e o dos Ministérios. Veja como é sábia a nossa
organização administrativa! A montagem do forno foi a melhor ideia do Governo passado.
Antes dele a Imprensa Nacional vivia entulhada de impressos; a produção de relatórios,
função capital deste ministério, periclitava; e era tudo uma desordem, um desequilíbrio
capaz de induzir o Governo à supressão da Imprensa e do meu ministério. O forno
sanou a situação. O fervet opus é magnífico
e a espada de Dâmocles está para sempre arredada de nossas cabeças. Hein? Vá. Escreva
outro relatório, sobre... sobre... o caruru, por exemplo.
Sizenando deixou o gabinete do ministro
profundamente meditativo. Sua excelência derrancara-o!
Viu com dor de alma as chamas do Forno
lerem aquele relatório tão bem- acabadinho, tão de encher o olho... E sacou seis
meses de licença com vencimentos para descansar.
Esgotada a licença, ia Sizenando começar
a pensar em preparar-se para escolher o papel e a tinta com que relatasse o caruru
quando a política apeou da administrança o doutor Grifado. Sizenando deixou que
transcorressem mais seis meses, ao termo dos quais se apresentou ao novo ministro
para lhe sondar a orientação.
O novo ministro era bacharel em ciências
jurídicas e sociais, ex-chefe de polícia e tão entendido em agricultura como em
arqueologia inca. Mas lera uns números de Chácaras
e Quintais e ali se abeberara de umas tantas noções sobre avicultura, policultura,
criação de canários etc. Fez dessas uras o seu programa. No discurso de apresentação,
ao empossar-se no cargo, emitiu os seguintes conceitos, louvadíssimos pelos circunstantes,
empregados no ministério quase todos e verdadeiros hortaliças em matéria agrícola.
— A monocultura, senhores, é o grande
mal; a policultura é o grande bem; no dia em que produzirmos cebola, alho, batata,
repolho, coentro, alpiste, cerefólio, grão-de-bico, tremoço, quiabo, espargo, espinafre,
alcachofra...
(Um arrepio de entusiasmo percorreu
a espinha dos assistentes, que se entreolharam gozosos, como quem diz: Temos homem
pela proa!)
—... cebolinha, couve-flor, sorgo,
soja amarela, centeio, aveia, figos da Trácia, uvas de Corinto, violetas de Parma...
— Bravíssimo!
—... violetas de Parma... e outros
cereais europeus (vermelhidão no rosto), a prosperidade nacional se assentará num
soco basáltico, do qual não a arrancarão as mais rijas lufadas dos vendavais econômicos.
Conduzir a pátria a essa Canaã da policultura: eis a mira permanente dos meus esforços,
eis o meu programa, eis o fim supremo colimado pela minha atividade. Espero, pois,
que etc. etc.
Palmas, bravos, guinchos, silvos e
outros sons denunciadores de entusiasmo em grau de ebulição estrugiram pela sala.
O ministro foi abraçado e beijado — nas mãos. Aquele salvaria a pátria, não havia
a menor dúvida!
O novo ministro da Agricultura era
positivamente uma águia — igual às anteriores. Tinha programa. Visava confundir
a rotina monocultora com demonstrações práticas das magnificências da policultura
mecânica.
Sizenando recebeu ordem de ir desatolar
a vigésima região do atascal da rotina. Aquela gente ainda vivia em pleno período
da pedra lascada do café; era mister tangê-la à estação áurea da policultura, da
avicultura, da sericultura, da criação de canários hamburgueses etc., preluzida
no discurso do ministro.
Chegando à sede do distrito, com séquito
numeroso e abundante farragem mecânica, Sizenando distribuiu convites para a inauguração
dum curso prático. Escolheu para campo de demonstração um “rapador” a um quilômetro
da cidade, e lá, no dia emprazado, reuniu os convivas. Veio o prefeito municipal,
o porteiro da Câmara, o coletor federal, o promotor público, três jornalistas, quatro
professores, o diretor do grupo escolar com a meninada, o vigário da paróquia, o
fiscal da iluminação pública, o zelador do cemitério, o carcereiro, dois guarda-chaves
da Central, cinco inspetores de quarteirão, o delegado, o cabo do destacamento —
e um fazendeiro recém-despojado da sua
propriedade por dívidas. A turma docente e os bois do arado formavam grupo à parte.
Sizenando trepou a um cupim e pronunciou
breve alocução alusiva à personalidade sobre-excelente do ministro, e ao papel dos
novos métodos racionais na agricultura moderna.
— O novo método, meus senhores, é
baseado na ciência pura. Vem dos laboratórios de braços dados à química. Começarei
pela demonstração do arado, ou charrua, a pedra angular de todo o progresso agrícola.
Senhor Primeiro Arador, arado para a frente!
Despegou-se da turma um capataz, que
empurrou para perto do cupim tribunício um belo arado de disco. Rodearam-no os circunstantes,
como a um animal raro.
— Eis, meus senhores, um arado de
disco. Esta parte se chama cabo; esta é a roda, serve para rodar; estas rodelas
são os discos, servem para sulcar a terra; este ferrinho é a manivela graduadora;
este pauzinho é o balancim. Aqui se atrelam os bois e cá toma assento o condutor.
A assistência abria a boca.
— Vejamo-lo agora em ação. Senhor
Primeiro Condutor de Primeira Classe, atrelar!
Adiantou-se da turma um carreiro e
tangeu os bois para a máquina, jungindo-os à canga. Os assistentes riram-se. Acharam
imensa graça no Tomé Pichorra, que nunca fora senão o Tomé Pichorra, carreiro, transformado
em Primeiro Condutor de Primeira Classe! Era de primeiríssima.
— Senhor Primeiro Arador, arar!
O Primeiro Arador saltou à boleia
e empunhou as manivelas. O Primeiro Condutor aguilhoou a junta de bois.
— ‘amo, Bordado! Puxa, Malhado!
Os dois caracus moveram-se pesadamente.
A terra, sulcada pelo ferro, abriu-se em leivas. Sizenando exultou.
— Vejam, senhores, que maravilha!
Faz o trabalho de vinte homens, além de que deixa a terra desatada, com grande receptividade
para a meteorização atmosférica — o que equivale a um adubamento copioso.
Este pedacinho encantou sobremodo
ao zelador do cemitério, o qual não conteve um sincero “Muito bem!”.
Sizenando agradeceu com um gesto de
cabeça. O arado deu umas tantas voltas e emperrou. A banda de música, para disfarçar
a entaladela, rompeu o Vem cá mulata.
E assim terminou a primeira parte da bela demonstração agrícola.
A segunda constituiu no destorroamento
e no gradeamento da terra, feitos com o mesmo luxuoso aparato. Havia Primeiro e
Segundo Destorroador, Primeiro e Segundo Gradeador. Um mimo de hierarquia!
Ao terminar o serviço, a banda zabumbou
um tanguinho.
A terceira parte foi absorvida pelo
plantio de cebolas, batatas, alho, alfafa e outras salvações nacionais.
— Os senhores verão — concluiu Sizenando
— que maravilhosa messe vai brotar, farta, deste torrão sáfaro e ingrato só porque
aplicamos sumariamente os processos modernos da cultura racional, os quais centuplicam
a produção e diminuem o trabalho. A máquina agrícola é a verdadeira alavanca do
progresso!
— Protesto! A alavanca do progresso
sempre foi a imprensa — contraveio um jornalista, cioso da velha prerrogativa.
— Será — retrucou Sizenando —; mas
se uma, a imprensa, alçaprema o progresso moral, a outra, a máquina agrícola, alçaprema
o progresso econômico!
— Bravíssimo! — rugiu o zelador do
cemitério, inimigo pessoal do Zé Tesoura. — Isto é que é!
— Sim, senhor, muito bem! — grunhiram
outros.
Rubro de gozo pelo sucesso da tirada,
Capistrano espichou o dedo para a filarmônica, a pedir o hino nacional.
Desbarretaram-se todos. Ereto sobre
o pedestal de cupim, Capistrano imobilizou-se em atitude de religiosa unção, de
olhos fixos no futuro da pátria. E à derradeira nota pôs fim à festa com um escarlate
viva à República com três “erres”.
Acompanharam-no, como um eco, o coletor,
o zelador do cemitério, o agente do correio e os funcionários federais demissíveis,
além dos bois, que mugiram.
Meses mais tarde procedeu-se à colheita.
As cebolas haviam apodrecido na terra, devido às chuvas; os alhos vieram sem dentes,
devido ao sol; as batatas não foram por diante, devido às vaquinhas; as outras “policulturas”
negaram fogo devido à saúva, à quenquém, à geada, a isto e mais aquilo.
Não obstante, seguiu para o Rio um
soporoso relatório de trezentas páginas onde Capistrano, entre outras maravilhas,
notava: “Os resultados práticos do nosso método demonstrativo in loco têm sido verdadeiramente assombrosos!
Os lavradores acodem em massa às lições, aplaudem-nos com delírio e, de volta às
suas terras, lançam-se com furor à cultura poli, em tão boa hora lembrada pelo claro
espírito de vossa excelência. O Senhor Ministro pode felicitar-se de ter aberto
de par em par as portas da idade de ouro da agricultura nacional”.
Os jornais transcreveram com gabos
estes e outros pedacinhos de ouro. E o conde de Afonso Celso se encheu de mais um
bocado de ufania por este nosso maravilhoso país.
---
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)
A descrição da máquina daquele Ministério da Agricultura, por mais intrigante que pareça, em algumas estruturas ainda perdura!
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