Andando a filha da onça muito
namorada pelo lagarto e pelo homem, que desejavam desposá-la, o jabuti jurou
que havia de vencer aos dois. Pensou um plano. "Achei, achei!" —
disse de repente.
Foi a uma aguada e pegou um
punhado de sapinhos, que soltou no bebedouro, com ordem, quando qualquer bicho
viesse beber, de cantar uma coisa assim:
Turi, turi...
Quebrar-lhe as pernas...
Furar-lhe os olhos...
E recomendou:
— Mas se eu aparecer com a
minha gaita vocês ficam logo caladinhos, ouviram?
Logo depois apareceu b macaco,
que vinha beber. Ao ouvir a cantiga da água, deu um pulo de medo e sumiu-se.
Outros bichos vieram,
acontecendo a mesma coisa. Veio o lagarto — e fugiu no galope.
Veio o homem — e fugiu fazendo
o pelo-sinal.
Faltava só o jabuti. Foram
buscá-lo.
— Pois vou, porque não tenho
medo nenhum, mas quero que todos os animais me acompanhem de perto.
A bicharia toda o seguiu.
Quando chegou em certo ponto, disse o jabuti:
— Bem, agora vocês parem. Eu
vou só. Aproximou-se do bebedouro e deu um toque de gaita. Os sapinhos
emudeceram como peixes.
O jabuti bebeu sossegadamente
e foi ter com os animais, que estavam assombrados de tanta valentia. A onça,
muito alegre, deu-lhe a filha em casamento.
***
— O que achei mais graça —
disse Narizinho — foi aparecer um homem disputando com o jabuti a mão da filha
da onça.
— E mesmo assim, mesmo em luta
com o rei dos animais — observou Pedrinho — foi o cágado quem venceu. Isso
mostra que os índios punham o jabuti até acima do homem, em matéria de
esperteza.
— Que pena não termos um
cágado aqui! — suspirou a menina. — Gosto cada vez mais desse bichinho.
— E é gostoso mesmo — disse
tia Nastácia. — Ensopado, com bastante tempero e um bom pirão de farinha de
mandioca, é gostoso da gente comer e lamber as unhas.
Emília fulminou-a com os
olhos.
— E agora? — perguntou
Narizinho. — Ainda sabe mais alguma coisa do jabuti?
— Arre, menina. Que tanto
quer? — respondeu a preta. — Não sei mais nada, não. Chega. Tenho de ir cuidar
do jantar. Até logo.
— Então vovó que conte mais
algumas. Dona Benta respondeu:
— Eu sei centenas de
histórias. O difícil está na escolha. Sei histórias do folclore de todos os
países.
— Então conte uma do folclore
da Índia! — pediu o menino.
— Da índia, não. Da China —
pediu Narizinho.
— Da China, não. Do Cáucaso —
pediu a boneca, que andava com mania de coisas russas.
E dona Benta contou uma
história do folclore do Cáucaso.
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Notas:
Extraído da obra: Histórias de Tia Nastácia.
Transcrição e atualização ortográfica: Iba Mendes (2018)
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