Lady Godiva - Pintura de Jules Lefebvre (1898)
Autor: Alfred Tennyson
Tradutor
desconhecido
Ano: 1936
Esperando o
trem em Coventry,
Entre guardas e noivos olhei, da ponte,
Os campanários três,
e aí dei forma
À antiga lenda da
cidade assim:
Não só nós, frutos
últimos do tempo,
Que, num girar da
roda, do passado
Rimos, e que falamos
de injustiças
E direitos, amamos
bem o povo
E odiamos vê-lo sobretributado.
Mais fez e suportou
e dominou
Essa mulher de há
anos mil, Godiva,
Esposa desse duro
conde, que era
Senhor de
Coventry: porque, quando ele
Lançou impostos na
cidade, e as mães
Com os filhos
vieram o clamaram:
"Se pagamos,
há fome", procurou-o
Onde entre cães sozinho,
passeava
No salão, com a
barba ondeando vasta
E mais vasto o
cabelo, e aí falou-lhe
Das lágrimas do
povo - "se eles pagam
Há fome"; e ele
fitou-a entrepasmado,
E respondeu – “não
sacrificarias
À causa destes uma
dor de dedos
Decerto?" E ela
disse - "morreria.”
Ele riu e jurou
por Pedro e Paulo,
Brincou-lhe com o
brinco de brilhantes,
Depois — "sim,
sim, sim, falas". “Ai, disse ela:
Mas provai-me o
que há que ou não faria.”
De um peito como a
mão de Esaú rude
Disse ele então — “se
queres que retire
O imposto que
lancei, cavalga nua
Através da
cidade" e, desdenhoso,
Com largos passos
entre os cães saiu.
Só então, as paixões
da sua alma,
Como ventos que
mudam o se opõem
Durante uma hora
se entreguerrearam
Até que venceu a compaixão.
Mandou
Um arauto anunciar,
trombeteando,
A dura condição,
mas que ela iria
Para isentar o
povo; e pelo amor
Que lhe tivessem, até
ao meio-dia
Ninguém pisasse a
rua, nem olhasse,
Passando ela, nem ninguém
saísse.
Fechadas todas as
portas e janelas.
Então no seu mais íntimo
aposento,
As águias presas
desligou do cinto,
Dom do conde, parando
a cada instante,
Qual lua no verão
meio encoberta.
Ondeando até ao
joelho desprendeu
O cabelo: depois,
despiu-se à pressa,
E, desligando pela
escadaria,
Como um raio de
sol furtivo, foi
De coluna a coluna
até chegar
Ao portão e ao cavalo
ajaezado
Em púrpura com o
ouro dos brasões.
Vestida de pureza
foi, e o ar
Parecia escutar om
torno dela,
E o vento mal
soprava, de receio,
As pequenas
cabeças do repuxo
Tinham para ela
olhos, o rafeiro
Ladrando
enrubescia-a, o trotear
Do cavalo
pulsava-lhe em horror
Nas veias; a cegueira
das paredes
Era cheia de
fendas, o de cima
Apinhadas as telhas
espreitavam;
Mas ela tudo suportou,
até
Que por fim viu
nos campos, através
Das góticas
arcadas na parede
O branquear da
flor do sabugueiro.
Voltou então,
vestida de pureza:
E um vilão, lama
desagradecida,
Provérbio ignóbil
a vindouros anos,
A medo verrumando
a porta, olhou,
Mas os seus olhos,
inda sem ter visto,
Murcharam-lhe nas órbitas,
caindo
Ante ele. Assim
quem guarda os nobres da d'alma.
Apagou um sentido mal-usado,
E ela seguiu, insciente:
então, a um tempo,
Com doze badaladas
sonorosas,
De cem torres soou
o meio-dia
Lentamente, e ela só
então entrou
No quarto, donde,
de coroa e vestes
Nobres, saindo em
bem, e ao encontro
Indo do seu
senhor, tirou o imposto
E ganhou para si
um nome eterno.
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Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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