Autor: Arthur Rimbaud
Tradutor: Magalhães
Júnior
Ano: 1950.
As catadeiras de piolhos
Quando a mente do infante, em rubra tempestade,
implora o alvo tropel dos sonhos indistintos,
duas ternas irmãs vêm, cheias de bondade,
Sentando-o junto a um vão de porta escancarada
ao ar azul que banha os bosques e os rosais,
na espessa cabeleira, ao mormaço orvalhada,
passeiam com afã os dedos finos, mortais.
Ele ouve-lhes cantar, lenta, a respiração,
com doçura de mel vegetal e rosado,
que a espaços interrompe ou a salivação
ou anseio de um beijo a custo recalcado.
Cílios a palpitar, em morna sonolência,
no silêncio aromal, ele ouve... e cerra os olhos,
enquanto os dedos com elétrica insistência.
dão sob as unhas reais morte aos pequenos piolhos.
O vinho da preguiça, o néctar das delícias,
suspiro musical, o invade e faz sonhar...
E então, nele, incessante, ao torpor das carícias,
surde e morre um desejo imenso de chorar...---
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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