Uma raposa foi deitar-se,
fingindo-se de morta, no caminho por onde um homem ia passar. O homem chegou,
parou e disse:
— Coitada da amiga raposa! Fez
um buraco e enterrou-a.
Assim que ele se afastou, a
raposa saiu da cova e correu por dentro do mato até sair lá adiante. Deitou-se
de novo na estrada, sempre a fingir de morta.
O homem chegou e disse:
— Oh, outra raposa!
Coitadinha... Arredou-a da estrada, cobriu-a de folhas secas e lá se foi.
A raposa repetiu a manobra.
Correu a deitar-se lá adiante, no meio do caminho. O homem chegou e enrugou a
testa.
— Quem será que anda matando
estas raposas?
Mas não a enterrou, nem a
cobriu de folhas secas. Deixou-a onde estava.
A raposa pela quarta vez
repetiu a manobra. Foi correndo deitar-se lá adiante. O homem chegou, e vendo
mais aquela disse: "O diabo leve tanta raposa morta!" E agarrando-a
pelo rabo jogou-a no mato.
A raposa ficou pensativa.
— Estou vendo que é um perigo
abusar dos nossos benfeitores...
— Isto é uma história moral —
disse Pedrinho.
— Sim — concordou dona Benta.
— É das tais que encerram uma lição. "Não abuses!" é a lição que a
gente tira daí. A raposa abusou da bondade do homem — e se insistisse mais uma
vez, o homem era capaz de dar-lhe um pontapé que a matasse de verdade.
— E seria bem feito — disse
Emília. — Quem atropela desse modo os bons, merece pau.
***
Depois dessa história, Emília
gritou:
— Eu quero agora uma
historinha bem bonita em que haja um pinto! Todos estranharam aquela exigência.
— Por que pinto e não galo ou
um cachorro? — perguntou Narizinho. E Emília respondeu:
— Porque esta noite sonhei com
um pinto sura que veio comer quirera na minha mão.
E tia Nastácia contou a
história de um pinto sura.
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Notas:
Extraído da obra: Histórias de Tia Nastácia.
Transcrição e atualização ortográfica: Iba Mendes (2018)
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