Luiz Delfino, o grande poeta
Luís Delfino, o grande poeta, gostava de recitar os seus versos, mas quando o recitava em grupo de que faziam parte pessoas estranhas, interrompia, muita vez, a recitação.
Luís Delfino, o grande poeta, gostava de recitar os seus versos, mas quando o recitava em grupo de que faziam parte pessoas estranhas, interrompia, muita vez, a recitação.
Justificando-se depois, explicava aos
amigos a sua conduta, contando o seguinte caso:
— Um dia, por ocasião de uma festa
dada por meu filho, apareceu em nossa casa um jovem de quem recebi as mais
tocantes provas de admiração. Recitei-lhe um dos meus melhores sonetos. Meia
hora depois, estando eu no salão, a ver as danças, o moço pediu: — Mestre,
peço-lhe a fineza de recitar de novo o belo soneto. Recitei-o. Instantes depois,
na copa, o moço veio e, carinhoso, pediu: — Mestre, o belo soneto. Eu,
agradecido, repeti. Minutos depois, na sala da música, reapareceu o moço,
pedindo: — Mestre, o belo soneto. Eu, comovido, recitava. E assim, perto da noite,
até o raiar da aurora, o moço, pálido de admiração, repetia o pedido: — Mestre,
o belo soneto! e eu, estonteado de incenso, repetia o soneto. O moço pediu
quinze vezes, eu recitei quinze vezes. Acabou a feita. Debandaram os
convidados. Foi-se embora o moço. Eu, lisonjeado por essa pertinaz admiração,
contei o caso ao meu filho e o meu filho, desconfiado, exclamou: quinze vezes o
mesmo soneto? Que admirador esquisito! O meu filho tinha mais do que razão.
Aquele admirador não era só esquisito: era também ladrão. Sim, ladrão! porque,
alguns dias de pois da festa, abrindo um jornal, vi o meu belo soneto assinado
por outro.
Revista
"Careta",
1 de fevereiro de 1919.
1 de fevereiro de 1919.
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