Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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OS VERSOS DE LUÍS DELFINO
RESUMEM TODAS AS FASES DE NOSSA POESIA
A obra de Luís Delfino permaneceu,
durante muito tempo, esparsa em jornais e revistas. E este fato deu margem a
que, em mais de uma ocasião, não fosse feita a justiça devida ao ilustre poeta
catarinense. Em 1896, ao fundar- se a Academia Brasileira de Letras, verificou-se
mesmo um episódio curioso. Sendo um dos primeiros nomes apresentados para
pertencer ao novo cenáculo, o cantor de A Filha da África deixou de
sentar-se “sur la coupole”, por não ter, ainda, um único livro publicado. Como
se a simples impressão de um volume pudesse valer mais do que a consagração da
crítica e do público.
Hoje, porém, já devemos ao zelo filial
de Tomás Delfino a publicação de uma grande parte da obra variada e extensa do
autor de Algas e Musgos. E não existem mais lugar para erros e equívocos.
Luís Delfino pode ser apontado, sem favor, como um dos maiores poetas do
Brasil. A pujança do pensamento, a opulência da imaginação e o colorido da linguagem
caracterizam os seus versos, que resumem todas as fases da nossa poesia. Sempre
requintada, a sua arte abrange as diversas escolas, do romantismo ao
simbolismo, passando por um período semicondoreiro.
Dividida em duas ou três etapas, dentro
do espírito das escolas poéticas, a obra de Luís Delfino tem, como constante
característica, o vigor da expressão e o poder verbal, que sobrepuja qualquer
tema, qualquer conceito, qualquer sentimento. Trata-se, no justo reparo de um
crítico, de um verdadeiro desperdício de palavras, brotadas magicamente, com um
brilho e uma magnificência extraordinárias. Os vocábulos ressoavam, em rimas sonoras,
fixando imagens de uma quente musicalidade, de um sensualismo transbordante. Vemos,
nos seus versos, o espírito das largas epopeias, como cavalgatar de amazonas
belicosas. A sua lira extravasa estranhas ressonâncias, em um milagre de som e
de luz, que lembra Victor Hugo e Guerra Junqueira.
Luís Delfino nasceu, a 25 de setembro de
1834, na antiga Desterro. E, depois de cursar o Colégio dos Jesuítas, na antiga
capital catarinense, transferiu-se aos dezessete anos para o Rio de Janeiro,
onde concluiu o curso de humanidades. Entrou, então, para a Academia de
Medicina, doutorando-se em 1857. No mesmo ano, abriu consultório, exercendo a
clínica, apaixonadamente, até ao fim da vida.
A atividade de Luís Delfino, como médico,
prejudicou, de certo modo, a sua obra de poeta. As horas dispensadas ao
trabalho literário foram sempre, ao longo dos anos, cada vez mais reduzidas
pelas obrigações do clínico humanitário e estudioso. E, assim, o cantor de Angústia
do Infinito quase não dispunha de tempo para polir os seus versos. Diz- se
mesmo que os seus sonetos eram feitos entre urna consulta e outra, ou, de
preferência, nos tílburis, nos percursos das viagens para ir visitar os
doentes.
Não foi, entretanto, somente a
medicina que distraiu as atenções do poeta. Luís Delfino mostrou-se, também, um
apaixonado da política, aspirando desde a mocidade um lugar no Parlamento. Até
que, quando da proclamação da República, viu os seus sonhos se concretizarem.
Santa Catarina mandou à Constituinte, na qualidade de senador, o seu grande
filho, que definia a liberdade como “a luz que deve guiar na senda do progresso
a sociedade moderna”.
A poesia nacional tem em Luís Delfino uma
das suas mais altas expressões. E não deixa de ser interessante observarmos,
antes do ponto final, que o voluptuoso panteísta não separava a mulher da
natureza. Aliás, Agripino Grieco já analisou, com muita argúcia, este aspecto
da produção do mestre de Arcos de Triunfo. A ninfa estava, para ele,
dentro da casca da árvore e a espumas constituíam o claro riso das oceânides.
Todas as suas visões da terra, do ar e do mar contavam com a presença feminina,
que enfeita os seus versos de amor e de ternura.
Revista
"Vamos Ler",
15 de outubro de 1942.
15 de outubro de 1942.
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