Miguel Torga – Aspectos Biográficos
Miguel Torga é o pseudônimo de um
dos mais apreciados escritores portugueses deste século. Seu nome real é Adolfo
Correia Rocha, e já esteve no Brasil, país que ele muito admira. Escritor de
brilhante estilo, seguindo os velhos moldes lusitanos, daquela geração que
tanto ilustrou o velho Portugal, Miguel Torga escreve de maneira bastante
amena, beirando por vezes as raias do classicismo. Suas histórias descrevem-nos
personagens do povo, do campo, dos humildes, mas atingindo frequentemente forte
realismo, como no conto Mariana, que
selecionamos para esta coletânea. Trata-se de cenas passadas em um povoado de
gente rude, nas montanhas lusitanas, onde se juntam o atraso e a superstição,
fato comum, em todos os países onde a educação ainda não pôde extirpar tais
práticas. Mariana figura em Novos Contos da Montanha, editado pela
Coimbra Editora, em 1945, já em segunda edição.
Miguel Torga, por causa de suas
ideias corajosas, nem sempre foi benquisto pelo seu governo atual, ou melhor,
pelos senhores do regime. Contristado com o que vai por lá e também pelo mundo,
externa suas mágoas no prefácio do livro em apreço, nestes termos:
"Querido leitor: Escrevo-te da Montanha, do sítio onde medram as raízes deste
livro. Encontrei tudo como o deixei no ano passado, quando da primeira edição
destas aventuras. Apenas vi mais fome, mais ignorância, e mais desespero. Corre
por estes montes um vento desolador de miséria que não deixa florir as urzes
nem pastar os rebanhos, o social juntou-se ao natural, e a lei anda de mãos
dadas com o suão a acabar de secar os olhos e as fontes. Crestados e
encarquilhados, os rostos dos velhos pastores parecem pergaminhos milenários
onde uma pena cruel traçou fundas e trágicas legendas. Na cara lisa dos novos,
pouco mais esperança há. Ora, eu sou escritor, como sabes. Poeta, prosador, é
na terra redonda que têm descanso as minhas angústias".
Sente-se humilhado ante tanto
surro e tanta lazeira e envergonhado de representar o ingrato papel de
"cronista de um mundo que nem me pode ler".
As histórias de Miguel Torga são
quase dolorosas, mas verossímeis, pois representam um retrato fiel do
sofrimento humano e da miséria que grassam em sua terra, e pede a compreensão
do leitor pela sorte áspera de seus irmãos.
A bagagem literária de Miguel
Torga é considerável, como se pode verificar.
Poesia: Ansiedade (1928, fora do mercado), Rampa (1930). Tributo
(1931), Abismo (1932), O Outro livro de Jó (1936, 2ª edição!
1944), Lamentação (1942). Prosa: Pão ázimo (1931), A terceira voz (1934), A
criação do mundo, Os dois primeiros
dias (1937), O terceiro dia da
criação do mundo (1938), O quarto dia
da criação é a mundo (1939), Bichos
(1940, 1943 e 1944), Montanha (1941),
Um reino maravilhoso (Trás-os-Montes,
conferência, 1914), Rua (1912), O Senhor Ventura (1943), O Porto, conferência (1944), Vindima (1945). Teatro: Terra firme (1941). Poesia e prosa: Diário (1° volume: 1941 e 1942), Diário (2° volume, 1943). Edições do
Autor: Novos contos da montanha (1944
e 1945), Libertação (1944), Diário (3° volume), Poemas ibéricos e O quinto
aia da criação do mundo.
Como se vê, Miguel Torga
exercitou vários gêneros, tendo sobressaído em todos. É um escritor que se lê
sempre com prazer e que nos faz meditar ante os temas humanos e dolorosos que
nos apresenta, quase sempre fruto de uma dura realidade.
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Fonte:
Primores do Conto Universal: Contos Portugueses. Seleção e organização: Jacob Penteado. Editora EDIGRAF. São Paulo, s/d, págs. 263-264.
Primores do Conto Universal: Contos Portugueses. Seleção e organização: Jacob Penteado. Editora EDIGRAF. São Paulo, s/d, págs. 263-264.
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