Luís Delfino, o grande poeta
Texto publicado originalmente na revista "Careta", em edição de 1919. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Luís Delfino, o grande poeta, gostava
de recitar os seus versos, mas quando o recitava em grupo de que faziam parte
pessoas estranhas, interrompia muita vez a recitação.
Justificando-se depois, explicava aos
amigos a sua conduta, contando o seguinte caso:
— Um dia, por ocasião de uma festa
dada por meu filho, apareceu em nossa casa um jovem de quem recebi as mais
tocantes provas de admiração. Recitei-lhe um dos meus melhores sonetos. Meia
hora depois, estando eu no salão a ver as danças, o moço pediu: — Mestre, peço-lhe
a fineza de recitar de novo o belo soneto. Recitei-o. Instantes depois, na
copa, o moço veio e, carinhoso, pediu: — Mestre, o belo soneto. Eu, agradecido,
repeti. Minutos depois, na sala da música, reapareceu o moço, pedindo: — Mestre,
o belo soneto. Eu, comovido, recitava. E assim, perto da noite, até o raiar da
aurora, o moço, pálido de admiração, repetia o pedido: — Mestre, o belo soneto!
e eu, estonteado de incenso, repetia o soneto. O moço pediu quinze vezes, eu
recitei quinze vezes. Acabou a feita. Debandaram os convidados. Foi-se embora o
moço. Eu, lisonjeado por essa pertinaz admiração, contei o caso ao meu filho e
o meu filho, desconfiado, exclamou: quinze vezes o mesmo soneto? Que admirador esquisito!
O meu filho tinha mais do que razão. Aquele admirador não era ó esquisito: era
também ladrão. Sim, ladrão! porque, alguns dias de pois da festa, abrindo um
jornal, vi o meu belo soneto assinado por outro.
Revista
"Careta", 1 de fevereiro de 1919.
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