Bernardo Guimarães – Aspectos Biográficos
Bernardo Joaquim da Silva
Guimarães (1825-1884) nasceu em Ouro Preto, estudou em seminário e, aos vinte e
dois anos, estava na Faculdade de Direito de São Paulo. Ao chegar à Faculdade,
já tinha criado o primeiro nó a ser destrinçado pelos biógrafos, pois corria a
lenda de haver tomado parte na revolução de 1842, ao lado dos rebeldes
liberais, embora o pai fosse conservador.
Como estudante, seus amigos mais
próximos são Aureliano Lessa e Álvares de Azevedo. Vida de boêmio; às
quartas-feiras, havia a ceia "escolástica", e discursos construídos
com palavras inteligíveis, esquemas sintáticos sem congruência semântica. Uma
estrofe de amostra:
E o filho dos ermos, do monte rolando,
Puxou pela faca de grande extensão,
Caiu como o cisne que toca trombeta
De ventas no chão.
Colaborou com prosa e verso nas
publicações da época e terminou o curso em 1852. Não foi bom aluno, o que
ocorre, ainda hoje, com moços de talento, inadaptáveis aos programas
quadriculados dos cursos acadêmicos.
Formado, foi juiz em Catalão de
Goiás, por duas vezes, fez jornalismo e literatura no Rio. De volta a Catalão,
ocorrem situações difíceis; consegue superá-las e retorna à capital. Depois,
vai do Rio para Ouro Preto, agora para se casar com D. Teresa, leitora de seus
versos. História romântica: Um dia, o cunhado, cirurgião, pediu a Teresa que
ficasse vigiando sanguessugas postas numa bacia; ela, enquanto vigiava, abriu
um livro de poemas — Cantos da Solidão —
embalou-se na música dos versos, e esqueceu o serviço. Então, de brincadeira, o
cunhado lhe disse que se continuasse assim distraída, acabaria casando com um
labrego. E ela respondeu: — "Isso não, eu hei de casar com o autor deste
livro." E assim foi.
Casamento cria obrigações e
Bernardo Guimarães precisou de um emprego; o Governo da Província o nomeou
Professor de Retórica e Poética no Liceu Mineiro. Ali mesmo em Ouro Preto.
Uma das filhas do casal foi
Constança, falecida aos dezessete anos e que ficou na literatura como a musa de
Alphonsus de Guimaraens, a que "se morreu fulgente e fria".
Da rebeldia do escritor contra as
normas desumanas ou hipócritas da sociedade, dois episódios são sempre
lembrados. Em Catalão, ao assumir o cargo de juiz, teve pena dos presos,
maltratados, à espera de julgamento; para abreviar-lhes o sofrimento, suprimiu
os prazos processuais, convocou onze réus de uma vez a uma sessão de júri, na
qual todos foram absolvidos por unanimidade...
O que aconteceu depois, em
falação, demissão, exprobração, e outros substantivos verbais de ação, não
caberia neste resumo. Melhor passar ao segundo caso.
Aureliano Lessa chegara a Ouro
Preto, vindo de Diamantina, cavalgando uma besta, que é nome de mula em Minas
Gerais. Hospedou-se em casa de Bernardo, pois a amizade não ficara esquecida
sob as arcadas da Faculdade. E foi então que, certo entardecer, um povaréu se
juntou em frente à casa do poeta: a besta estava na sacada do sobrado, posta
ali para "distrair-se de uma profunda melancolia".
Também se poderia referir certo
apressado particular que, levando um requerimento ao juiz, o encontro de violão
atravessado ao peito, dedilhando. O particular está apressado, já dissemos, e
pede rapidez ao juiz. Rápido, ele despacha, em verso, cantando e acompanhando, ao
som do pinho.
Temperamento alegre, com uma
tendência irônica, que não era usada só na literatura, mas na vida também, há
nos seus romances uma componente naturalista, esbatendo os exageros
sentimentais do romantismo e opondo ao idealismo hipertrófico deste, um bom
senso e uma sensualidade mais efetiva c realista.
Em Formação da Literatura Brasileira (Livraria Martins, São Paulo),
Antônio Cândido define com precisão os romances de Bernardo Guimarães: O Ermitão de Muquém é contado em quatro
pousos, por um companheiro de jornada; e quase todos os outros livros não
deixam de apresentar essa tonalidade de conversa de rancho. Conversa de
bacharel, bastante letrado para florear as descrições e suspender a curiosidade
do ouvinte, mas bastante matuto para exprimir fielmente a inspiração do gênio
dos lugares."
Para maiores informações a
respeito da biografia do autor de A
Escrava Isaura, consulte-se Basílio de Magalhães, em Bernardo Guimarães,
edição do Anuário do Brasil, 1926,
Rio.
M. Cavalcanti Proença
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Fonte:
O Seminarista, por: Bernardo Guimarães. Biografia por: M. Cavalcanti Proença. Editora Tecnoprint. Rio de Janeiro, s/d, págs. 1-3
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