Algas e Musgos, uma crítica
Texto publicado originalmente na revista "Vida Doméstica", em edição de 1927. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
Texto publicado originalmente na revista "Vida Doméstica", em edição de 1927. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Luís Delfino, que morreu aos setenta e
tantos anos de idade, nem sequer nos deixou um único volume de versos, apesar
de ser o poeta mais fecundo que o Brasil já possuiu. Como se sabe, o autor das Imortalidades era
temperamento poético exuberante, espontâneo, que versejava com prodigiosa
facilidade. Deixou, por isso, matéria para muitos e alentados volumes.
Os admiradores do grande poeta, que o
são todos os que sabem estimar a poesia, esperavam, com justificado anseio, o
primeiro livro da série a ser publicada pelo Sr. Tomás Delfino, que, zelosa e
avaramente, tem sob a sua guarda esse tesouro paterno. E quando já começavam a desesperar-se, eis que,
afinal, aparece Algas e Musgos!
Todos a um tempo se apressaram para
deslumbrar-se, ante o faiscar das
joias raras, como só as sabia cinzelar magníficas e rutilantes Luís Delfino. No
entanto, o livro em que se encontram duzentos e seis sonetos, foi uma decepção
para muitos espíritos, dentre os quais para só citar um, se vê o também grande
e glorioso poeta Alberto de Oliveira, que disse em carta aberta ao Sr. Tomás
Delfino: “só ao digno filho de Luís Delfino, não se querendo demover do
propósito de, sem nenhuma seleção, estampar tudo o que achou escrito da mão
paterna, se deve a impressão desagradável produzida em alguns espíritos por
várias das páginas de Algas e Musgos”.
Realmente, nem tudo quanto escreveu
Luís Delfino é admirável; conhecemos muita produção sua que chega a ser
abominável, de tão medíocre no referente à essência e à técnica do verso.
Mas seja como for, Algas e Musgos é
um livro bom, pois há nele páginas que só um poeta genial seria capaz de
escrever. E o Sr. Tomás Delfino
merece ser louvado, apesar do seu ponto de vista sobre a publicação da obra
paterna não ser o mesmo que o nosso.
Revista
"Vida Doméstica", maio de 1927.
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