A Primavera
JAYME AUGUSTO DE
CASTRO
"Poesias" (1871)
Já sopra o vento
norte, e ao sul impele
Em grossos
turbilhões a nevoa grossa,
Que o céu toldava
do Brasil fecundo,
Além os cumes das
erguidas serras,
Ainda umedecidos,
Despindo o manto
da estação brumosa,
Qual polido
Crystal, à luz resplendem
De um sol
vivificante.
E a fonte pura,
que do cimo agreste
De fraga em fraga
ressaltando geme,
Em grossos flocos
de luzente prata
A terra se
desprende.
Aqui é ali os
bosques se revestem
De folhas novas,
de diversas flores;
E o prado, o vale,
os montes e as colinas,
De um verde
aveludado ao gado oferecem
Fresca pastagem
com seus novos brotos.
Os bastos
laranjais curvam-se ao peso
De seus dourados
frutos saborosos,
Que se destecem
das fragrantes flores
Que a virgem
simbolizam.
E entre a escura
folhagem esvoaçando
Os passarinhos num
chilrar contente;
O terno sabiá no
erguido galho,
Desfazendo-se em
ondas de harmonia;
O lindo beija-flor
verde-dourado,
Pairando ali com
um segredar continuo,
Roubando à cada
flor, que treme, e cede,
As doçuras de um
beijo,
Nos arrancam da terra
ébrios de gozo,
Envolta a mente em
divinais eflúvios.
Tudo, tudo sorri:
o céu sem nuvens,
Este céu do Brasil
de azul tão lindo;
As cristas dos
rochedos inda úmidas,
E as fontes que em
cascatas se despenham,
Refletindo do sol
a luz dourada;
Colinas, prados,
vales, e as florestas
Mostrando o altivo
Ipê com flores de ouro;
Laranjais, flores,
frutos, passarinhos;
Tudo, tudo sorri,
tudo anuncia
A formosa estação
— A Primavera. —
★★★
A Primavera
(A Manoel J. de O. Rocha)
DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)
Veste se a Terra
inteira de esperança;
De seus lábios
gentis — as meigas flores —
Evolam-se
balsâmicos olores
Ao louro esposo
que no azul avança.
Brilha um íris por
lúcida aliança;
E a terra, lendo a
música das cores,
Ensina o beijo — o
canto dos amores —
À fera, à virgem
pura, á rola mansa!
Passa nadando em
luz a brisa em festa;
Cantão em coro os
vates da floresta;
E o Sol, em honra
á venturosa data,
Liberta as
inocentes prisioneiras,
Solta as águas das
alvas cachoeiras,
Fundindo os nós
dos seus grilhões de prata!
★★★
Primavera
MÁRIO BEIRÃO
Vem, Primavera!
Abre o sendal de flores na terra,
Estende o pálio
azul no espaço,
lava num beijo o
firmamento baço,
traz a magia das
luzes e das cores!
Com teus perfumes
entontecedores, aromatiza as balsas.
Passo a passo
acorda os ninhos
e de teu regaço
lança a mãos
plenas rosas, esplendores.
A natureza em
júbilo te espera:
aclamando-te os
pássaros bisonhos
já se põem a
cantar, Mãe da quimera.
E em minh'alma,
entre frêmitos risonhos,
em febril
disparada,
ó Primavera,
passa a galope o
batalhão dos sonhos...
★★★
Primavera
FRANCISCO JOAQUIM
BINGRE
Passei a Primavera
de meus anos
Com maternais
desvelos amorosos.
Com meiguices,
afagos carinhosos,
Com mimos de
solícitos afanos.
Desenfaixado dos
primeiros panos,
Pus-me em pé, dei
passinhos vagarosos,
Logo corridas,
saltos brincalhosos,
Travessuras de
meninais enganos.
Nesta idade
infantil da Primavera,
Com outros meus
iguais brincões folgava.
Ah, quão gostoso,
então, o tempo me era!
Inocente brincar
só me encantava:
Feliz, se aqui
ficando eu conhecera
A força do prazer
que desfrutava!
★★★
Primaveras
CASIMIRO DE ABREU
Primavera! juventud del anno,
Mocidad! primavera della vita.
Metastasio
I
A primavera é a
estação dos risos,
Deus fita o mundo
com celeste afago,
Tremem as folhas e
palpita o lago
Da brisa louca aos
amorosos frisos.
Na primavera tudo
é viço e gala,
Trinam as aves a
canção de amores,
E doce e bela no
tapiz das flores
Melhor perfume a
violeta exala.
Na primavera tudo
é riso e festa,
Brotam aromas do
vergel florido,
E o ramo verde de
manhã colhido
Enfeita a fronte
da aldeã modesta.
A natureza se
desperta rindo,
Um hino imenso a
criação modula,
Canta a calhandra,
a juriti arrula,
O mar é calmo
porque o céu é lindo.
Alegre e verde se
balança o galho,
Suspira a fonte na
linguagem meiga,
Murmura a brisa: -
Como é linda a veiga!
Responde a rosa: -
Como é doce o orvalho!
II
Mas como às vezes
sobre o céu sereno
Corre uma nuvem
que a tormenta guia,
Também a lira
alguma vez sombria
Solta gemendo de
amargura um treno.
São flores
murchas; - o jasmim fenece,
Mas bafejado
s’erguerá de novo
Bem como o galho
do gentil renovo
Durante a noite,
quando o orvalho desce.
Se um amargo de
ironia cheio
Treme nos lábios
do cantor mancebo,
Em breve a virgem
do seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso
e lhe intumesce o seio.
Na primavera - na
manhã da vida -
Deus às tristezas
o sorriso enlaça,
E a tempestade se
dissipa e passa
À voz mimosa da
mulher querida.
Na mocidade, na
estação fogosa,
Ama-se a vida a
mocidade é crença,
E a alma virgem
nesta festa imensa
Canta, palpita,
s’extasia e goza.
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