Andorinhas
DAMASCENO VIEIRA
"Albatrozes" (1908)
Quando o quente
verão se extingue, quando
O fresco outono
refrigera os ares,
Elas, vibrando
tímidos cantares,
Vão além, novo
clima demandando.
Atravessam o azul,
de bando em bando,
Boêmias, sem amor
aos pátrios lares;
Sem a opressão dos
íntimos pesares.
Em caravana aérea
vão cantando.
Assim também, ó
crenças de outras eras.
Andorinhas azuis,
doidas quimeras,
Que me alegráveis
no risonho estio.
Fugistes como os
pássaros errantes,
E não volveis
jamais, nem por instantes,
A visitar o vosso
lar vazio!
★★★
O Beija-Flor
(A Pablo Minelli)
DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)
Alado gêmeo da
doirada Aurora!
Filho do azul e da
divina luz!
O pó dos astros,
como um halo, mora
No régio manto que
te deu Jesus!
Se o Sol passeia
pelos céus à fora,
Beijando estrelas
que aos milhões seduz,
Pelos jardins que
a primavera enflora,
Qual flor resiste
aos serafins azuis?
De beijos vives,
ideal amante;
Por beijos morres,
que te matam ciúmes
Das outras flores
que não têm perfumes.
Te é a morte, como
teu viver, brilhante:
Do berço teu o
próprio rei tem zelos,
São tua tumba
virginais cabelos!
★★★
O Cisne
DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)
No azul espelho de
impoluto lago
Desliza um cisne,
pálido e contrito.
O seu olhar tem
esse quê de vago
De quem vive a
sonhar com o infinito.
Sereno passa o
olímpico proscrito,
Ora suavemente, em
doce afago,
Beijando sobre a
espuma o caro mito
De Vênus, que ele
sorve trago a trago;
Ora a vista
voltada ao Armamento,
Procurando, com
tácito lamento,
Da sua Leda a
branca moradia.
Pobre poeta que da
meiga amante,
No azul dos lagos ou
do céu distante,
A cara imagem
delirando espia.
★★★
O galo e a pérola
CURVO SEMEDO
Num monturo,
engravatando,
Formoso galo
aguerrido
Acha uma pérola
fina
Qu'havia um nobre
perdido.
Por três vezes a
escoucinha
Sem nela querer
pegar;
À quarta,
erguendo-a no bico,
Se põe a
cacarejar.
Vêm logo algumas
galinhas
Cuidando qu'era
algum grão;
Mas vendo a
pérola, tristes
Vão-se, deixando-a
no chão.
Acaso passa um
ourives,
E, apanhando-a,
alegre diz:
"É uma pérola
fina!
Que belo achado
que fiz!"
"Homem",
lhe pergunta o galo,
"Tanto essa
joia merece?
Pois eu, por um
grão de milho
Te dera mil, se as
tivesse".
Pérola em poder de
galo,
Que lhe não sabe o
valor,
É como entre as
mãos dum néscio
As obras de um
sábio autor.
★★★
O Canto do Sabiá
DOMINGOS JOSÉ
GONÇALVES DE MAGALHÃES
"Urânia" (1862)
Urânia! Não ouves
Um terno reclamo,
Que soa no ramo
Do teu manacá!
Se queres ouvi-lo
O passo
apressemos;
De perto
escutemos,
Que é um sabiá.
Sentemo-nos juntos
Aqui no bosquete,
Sobre este tapete
De verde capim.
Não vás para
longe,
Que fico enfadado:
Aqui, a meu lado.
Bem perto de mim.
Falemos de manso
Enquanto ele
canta:
Se a voz o
espanta,
Daqui fugirá.
Ah! dize-me ao
ouvido,
Se aquele gorjeio
De amar, em teu
seio,
Desejos não dá?
Eu creio que
entendo
Aquela cantiga.
Se queres que o
diga
Responde que sim:
No seu estribilho
Diz ele: —
mortais,
De amor não
temais,
Amai-vos sem fim.
Continua...
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