Dá Meia-Noite
SOUSÂNDRADE
Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a
lua
Alveja nua,
E voa sobre os
templos da cidade.
Nos brancos muros
se projetam sombras;
Passeia a
sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da
divindade.
O silêncio
respira; almos frescores
Meus cabelos
afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no
ar andando à caça.
Adormeceu a virgem;
dos espíritos
Jaz nos mundos
risonhos –
Fora eu os sonhos
Da bela virgem…
uma nuvem passa.
★★★
Uma noite em los andes
RONALD DE CARVALHO
“Naquela noite de
Los
Andes eu amei como
nunca o Brasil.
De repente,
Um cheiro de
Bogari, um cheiro de varanda
carioca balançou
no ar…
Vinha não sei de
onde o murmúrio de um
córrego tranquilo,
escorregando como
um lagarto pela terra
molhada.
A sombra vestia
uma frescura de folhas
úmidas.
Um vagalume grosso
correu no mato.
Queimou-se no
sereno.
Eu fiquei olhando
uma porção de coisas
doces maternais…
Eu fiquei olhando,
longo tempo o céu da
noite chilena as
quatro estrelas de um
cruzeiro pendurado
fora do lugar…”
★★★
Pela noite
(A Rodrigo Otávio)
PEDRO RABELO
Digam do amor com
que eu acarinhava,
Todos os astros,
todas as estrelas...
Digam quanto as
fitava e como, ao vê-las,
Ela, a estrela
mais lúcida lembrava.
Dos céus em fora,
pela noite, e pelas
Nuvens que eu
tristemente contemplava,
Digam como daquele
afeto escrava
Minh'alma ansiava
por compreendê-las.
Tudo contem... Do
meu estranho afeto
Falem da minha dor
contida
Por largos meses e
por largos anos,
E esse que for o
astro mais indiscreto
Conte como me viu
a alma ferida,
Por desenganos
sobre desenganos.
★★★
Noite de saudade
FLORBELA ESPANCA
A Noite vem
pousando devagar
Sobre a Terra, que
inunda de amargura...
E nem sequer a
benção do luar
A quis tornar
divinamente pura...
Ninguém vem atrás
dela a acompanhar
A sua dor que é
cheia de tortura...
E eu ouço a Noite
imensa soluçar!
E eu ouço soluçar
a Noite escura!
Porque és assim
tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó
Noite, em ti existe
Uma saudade igual
à que eu contenho!
Saudade que eu sei
donde me vem...
Talvez de ti, ó
Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei
quem sou, nem o que tenho!
★★★
Noites de chuva
ANTÔNIO GOMES LEAL
Eu não sei, ó meu
bem, cheio de graças!
Se tu amas no
Outono — já sem rosas —
A longa e lenta
chuva nas vidraças,
E as noites
glaciais e pluviosas!...
Nessas noites sem
luz, que — visionários —
Temos quimeras
místicas, celestes,
E cismamos nos
pobres solitários
Que tiritam
debaixo dos ciprestes!
Que evocamos os
líricos passados,
As quimeras, e as
horas infelizes,
Os velhos casos
tristes olvidados
E os mortos
corações sob as raízes!...
Nessas noites, meu
bem, em que desfeito
Cai o frio granizo
nas estradas,
E tanto apraz
sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa
chuva nas calçadas;
Nessas noites,
elétricas, nervosas,
Todas cheias de
aromas outonais,
Que a tristeza tem
formas monstruosas,
Como, num sonho,
os pórticos claustrais;
Noites só em que o
sábio acha prazeres,
— Tão ignorados
dos cruéis profanos; —
E em que as
nervosas, místicas, mulheres,
Desfalecem
chorando, nos pianos;
Nessas noites, meu
bem! é que os poetas
Têm às vezes seus
sonhos mais brilhantes,
Folheiam suas
obras prediletas...
— Evocam rostos...
e visões distantes!
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