Mulher!
DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)
Rainha, deusa,
sol, gritão dementes,
Pajens, artistas,
reis embriagados
Pelos cabelos teus
aveludados,
Por tuas carnes
sãs de amor frementes!
Mas é o império
teu sobre os viventes
Maior que b desses
numes evocados:
Não há polos na
terra enregelados,
Se luz lhes dão
tuas pupilas quentes!
E deusa, e sol,
então porque chamar-te;
Se és mais do que
ambos para o mundo e a arte;
Se mais do que a
eles o mortal te quer?!
Quem de volúpia
tem os lábios úmidos,
E ofegantes de
amor os seios túmidos,
É mais que deusa,
chama-se — Mulher!
★★★
À Mulher
MANUEL DE ARRIAGA
“Cantos Sagrados” (1899)
Senhor da Força,
nós, o herói lendário,
Da Terra o
domador, o sábio, o forte,
Dir-se-ia que
juramos ante a morte
Guerra d'irmão a
irmão!...
Mais feros do que
os tigres, destruímo-nos
A ferro, a fogo, a
pólvora, a metralha,
Deixando, pelos
campos de batalha,
O sangue, a
assolação!...
Mudou agora o
Eterno ao mundo a rota
Que há séculos
trazia... e novos astros
Despontam no
horizonte, e em nossos mastros
Mais rútilos
troféus!...
Em vez da guerra
truculenta e ímpia,
Impõe-nos por
princípio a Paz dos Povos,
Que impávidos
demandam mundos novos,
Nova luz, novo
Deus!...
Fechado para
sempre o férreo ciclo
Da guerra
universal, obscuro berço
Do velho mundo
bárbaro, inda imerso
Nas lendas dos
heróis:
Compete a Ti,
Mulher, filha dileta
De Deus, coroar na
Terra a grande obra,
Que em fúlgido
progresso se desdobra,
À clara luz dos
soes!...
Missão mais nobre
à vida humana é dado:
Juntar e repartir
de muitos modos,
Por cada um de
nós, e em prol de todos,
Do bem a eterna
luz,
Fazendo com que
caiam na nossa alma,
Qual chuva em
messe loira e movediça,
Numa missão d'amor
e de Justiça,
Os sonhos de
Jesus!...
Em vez da Força,
amor rege hoje o mundo!
E amor, tomando as
galas da Beleza,
As normas de
Justiça, a mãe, a deusa
Das novas
gerações:
Ao teu celeste
influxo, posto à sombra
Da mãe de todos
nós, a Humanidade,
A paz será na
Terra, e na Verdade
Os nossos
corações!...
Beleza e amor,
unindo-se, fizeram
Do teu mimoso ser
um relicário,
Onde a mão do
divino estatuário
Os sonhos seus
guardou!...
D'encantos mil,
conjunto incomparável!
A Deus já
mereceste tal conceito,
Que só do amor
divino do teu peito,
A vida confiou!...
Teu lindo rosto,
espelho da sua alma,
Transporta-me a
ideais de tal apreço,
Que em frente dele
extático estremeço,
E ponho-me a
cismar:
Se entre as ondas
de graça e de beleza,
Que lançam sobre
mim seus olhos ternos,
Está ou não oculto
a bendizer-nos
De Deus o próprio
olhar!...
Tem jus as níveas
formas do teu corpo
Ao flácido veludo,
à fina seda,
Primor da
indústria humana que arremeda
As pétalas da
flor!
Rainha! traja
mantos d'ouro e púrpura,
A doce pérola, o
fúlgido brilhante,
E tudo quanto
esplêndido levante
Na Terra o teu
amor!
Amor se simboliza
num menino,
Dos céus gentil e
alado mensageiro,
Trazendo atrás de
si, como um cordeiro,
Pacífico leão!
O mágico poder que
a fera doma,
A força de que se
arma esse inocente
És tu mulher, e a
fera obediente
O nosso coração!
Cônscia de Ti, das
leis da vida, impera!
E aos pés verás as
almas subjugadas!
Tem mais poder que
o fio das espadas,
Um riso e olhar
dos teus!
Que o teu propício
amor, dos céus oriundo,
Nos doure a vida,
a ampare, a dulcifique,
Nos faça com que a
alma humana fique
Mais próxima de
Deus!
★★★
Retrato das mulheres em todas as idades
FRANCISCO JOAQUIM
BINGRE
Mulher, de quinze
a vinte é fresca rosa;
De vinte, a vinte
e cinco é de exp'rimenta.
De vinte cinco a
trinta, a graça aumenta:
Ditoso nesta idade
quem a goza!
De trinta a trinta
e cinco é mal gostosa
Porém, pode
passar, com sal, pimenta,
Mas já dos trinta
e cinco aos quarenta
Vai-se tornando
assaz fastidiosa.
De quarenta e
cinco ela é bachareleira,
Fala fanhoso e é
já de pouco gabo.
De cinquenta
cerrados é santeira!
Aos sessenta este
seu retrato acabo:
Menina, moça,
velha benzedeira,
Bruxa gogosa,
então, leve-a o diabo!
★★★
A Mulher
FAGUNDES VARELA
A mulher sem amor
é como o inverno,
Como a luz das
antélias no deserto,
Como espinheiro de
isoladas fragas,
Como das ondas o
caminho incerto.
A mulher sem amor
é mancenilha
Das ermas plagas
sobre o chão crescida,
Basta-lhe à sombra
repousar um’hora
Que seu veneno nos
corrompe a vida.
De eivado seio no
profundo abismo
Paixões repousam
num sudário eterno...
Não há canto nem
flor, não há perfumes,
A mulher sem amor
é como o inverno.
Su’alma é um
alaúde desmontado
Onde embalde o
cantor procura um hino;
Flor sem aromas,
sensitiva morta,
Batel nas ondas a
vagar sem tino.
Mas, se um raio do
sol tremendo deixa
Do céu nublado a
condensada treva,
A mulher amorosa é
mais que um anjo,
É um sopro de Deus
que tudo eleva!
Como o árabe
ardente e sequioso
Que a tenda deixa
pela noite escura
E vai no seio de
orvalhado lírio
Lamber a medo a
divinal frescura,
O poeta a venera
no silêncio,
Bebe o pranto
celeste que ela chora,
Ouve-lhe os
cantos, lhe perfuma a vida...
— A mulher amorosa
é como a aurora.
★★★
A Mulher
(Ao Conselheiro Franklin Dória)
MÚCIO TEIXEIRA
“Poesias e Poemas” (1888)
Quando a Mulher é
bela, pode a rosa
Ser comparada à
formosura dela;
Nem há na terra
coisa mais preciosa
Do que a Mulher,
quando a Mulher é bela!
Quando a Mulher é
casta, ao vê-la, a gente
Os pensamentos
maus pra longe afasta...
E as almas vão,
num êxtase eloquente,
Cair-lhe aos pés,
quando a Mulher é casta!
Quando a Mulher é
boa, irmã ou filha,
Esposa ou Mãe; o
pássaro — que voa,
A flor — que
aromatiza, a luz — que brilha,
Tudo é melhor,
quando a Mulher é boa!
E tu, que vês na
esposa virtuosa
Tão peregrinos
dons, Bardo! por ela
Vibra constante a
cítara gloriosa”
A boa e casta,
inteligente e bela!
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