Grande Morte
(A José Faustino Porto)
VICTORIANO PALHARES
"Peregrinas" (1870)
Ai, que hora! O
mundo anegra-se;
A animalidade
ruge;
No espaço chumbado
estruge
Um pavoroso
fragor.
Flameja o cume do
Gólgota,
Como tocha
deslumbrante,
Do ornar
agonizante
Do supremo
Redentor.
Vae consumar-se a
tragédia
Do martírio mais
augusto;
Tolhido o homem de
susto
Mergulha o rosto
no chão;
Estátua
tombada—pávido,
Não pensa, não vê,
não fala,
Mas sente que a
terra estala,
E lhe morde o
coração.
★★★
A Morte
(Ao Dr. Carlos Oneto e Viana)
DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)
Divindade gentil
da grande sombra!
Viúva da luz,
trágica deidade,
Que segas
incansável esta alfombra
Daninha, que se
chama humanidade!
Eu te saúdo! E em
nome desta terra,
Que a nossa humana
e estúpida maldade
Rasga e maltrata
mais que a tempestade,
Te imploro que
redobres tua guerra!
Fere tudo o que
mata, o urso e o condor,
A pomba que
persegue a borboleta
E a borboleta que
persegue a flor!
O homem destrói, e
suicida-te após,
Que terás atingido
a tua meta:
A Terra não
invejará aos Soes!
★★★
Morrer
AFONSO CELSO
"Poesias Escolhidas" (1902)
“O que vê a minh'alma confrangida
É que se morre muita vez na vida!”
BARTRINA.
Sim! morrer não é
somente
Transformar-se a
carne em pó
Muitas vezes morre
a gente,
Ninguém morre uma
vez só.
É morte muita
partida,
É morte muito
pesar,
É morte a crença
perdida,
E' morte não mais
amar.
A vida é um morrer
constante;
Começou mal se
nasceu,
Representa cada
instante,
— Um tanto que se
morreu.
Li isto nem sei já
onde...
Quão exato!... E
aquele a quem
A memória não
responde
Não morre um pouco
também?!
De muitos consiste
a lida
Em tantas mortes
sofrer
Que, na extrema
despedida,
Eles não deixam a
vida
Mas deixam só de
morrer.
★★★
Lembranças de morrer
ÁLVARES DE AZEVEDO
Eu deixo a vida
como deixa o tédio
Do deserto, o
poento caminheiro,
— Como as horas de
um longo pesadelo
Que se desfaz ao
dobre de um sineiro;
Como o desterro de
minh’alma errante,
Onde fogo
insensato a consumia:
Só levo uma
saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão
embelecia.
Só levo uma
saudade - é dessas sombras
Que eu sentia
velar nas noites minhas.
De ti, ó minha
mãe, pobre coitada,
Que por minha
tristeza te definhas!
Se uma lágrima as
pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos
seios treme ainda,
É pela virgem que
sonhei, que nunca
Aos lábios me
encostou a face linda!
Só tu à mocidade
sonhadora
Do pálido poeta
deste flores.
Se viveu, foi por
ti! e de esperança
De na vida gozar
de teus amores.
Beijarei a verdade
santa e nua,
Verei
cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos
errantes sonhos,
Filha do céu, eu
vou amar contigo!
Descansem o meu
leito solitário
Na floresta dos
homens esquecida,
À sombra de uma
cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou
- e amou na vida.
★★★
Se eu morresse amanhã
ÁLVARES DE AZEVEDO
Se eu morresse
amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos
minha triste irmã;
Minha mãe de
saudades morreria
Se eu morresse
amanhã!
Quanta glória
pressinto em meu futuro!
Que aurora de
porvir e que amanhã!
Eu perdera
chorando essas coroas
Se eu morresse
amanhã!
Que sol! que céu
azul! que doce n'alva
Acorda a natureza
mais louçã!
Não me batera
tanto amor no peito
Se eu morresse
amanhã!
Mas essa dor da
vida que devora
A ânsia de glória,
o doloroso afã...
A dor no peito
emudecera ao menos
Se eu morresse
amanhã!
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