Ser Mãe
COELHO NETO
“Távola do bom humor, Sonetos maranhenses” (1923)
Ser mãe é
desdobrar fibra por fibra
O coração! Ser mãe
é ter no alheio
Lábio, que suga, o
pedestal do seio,
Onde a vida, onde
o amor cantando vibra.
Ser mãe é ser um
anjo que se libra
Sobre um berço
dormido! É ser anseio,
É ser temeridade,
é ser receio,
E ser força que os males equilibra!
Todo bem, que a mãe
goza é bem do filho,
Espelho que se
mira afortunada,
Luz que lhe põe
nos olhos novo brilho
Ser mãe é andar
chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um
mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer
num paraíso.
★★★
À minha Mãe
AFONSO CELSO JÚNIOR
"Prelúdios" (1876)
Mãe... nome meigo,
qual é meigo o aroma
Suave e brando da
mimosa flor;
Mãe... bela
estrela que no céu assoma,
Mostrando sempre
divinal fulgor!
Farol fulgente
que, no mar da vida,
Nos mostra o porto
que bonança tem.
Quando na vaga do
tufão batida
O nauta implora
salvação — além!
Anjo que sempre
que encontramos penas,
Cardos, espinhos,
sofrimento e dor,
Com falas ternas,
sem iguais, amenas,
Mitiga a sorte que
só tom rigor!
Oh! como é doce,
que meiguice encerra,
Um puro beijo
entre sorrisos seus.
Aqui no mundo, no
viver, na terra,
Parece afago de
bondoso Deus!
E sempre um raio
de sem fim magia
Na fronte sua
perenal transluz,
Quer ela sofra,
qual sofreu Maria,
Quando em torturas
viu morrer Jesus!
Tu, que guiavas
meus trementes passos,
Nos belos dias do
infantil viver,
M'estende sempre,
minha Mãe, teus braços,
Que dentro d'alma
só terei prazer!
A ti dedica seus
humildes cantos
Quem te venera com
amor sem fim;
Dá-lhe um sorriso
no sofrer, nos prantos,
Que as magoas suas
cessarão — oh! sim!
★★★
Mãe...
ANTERO DE QUENTAL
“Sonetos” (1861)
Mãe — que
adormente este viver dorido,
E me vele esta
noite de tal frio,
E com as mãos
piedosas ate o fio
Do meu pobre
existir, meio partido...
Que me leve
consigo, adormecido,
Ao passar pelo
sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a
alma lá no rio
Da clara luz do
seu olhar querido...
Eu dava o meu
orgulho de homem — dava
Minha estéril
ciência, sem receio,
E em débil
criancinha me tornava.
Descuidada, feliz,
dócil também,
Se eu pudesse
dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses,
querida, a minha mãe!
★★★
A Mãe
GUILHERME DE AZEVEDO
“A Alma Nova” (1874)
Eu canto-vos,
mulher, porque vos tenho visto
Na pálpebra
vermelha a lágrima de amor,
Que vem de Eva a
Maria — a doce mãe de Cristo —
Formando a
estalactite imensa duma dor!
Oh, quantas vezes
já na aldeia miserável
Nas tristezas do
campo, às portas dos casais,
Vos tenho
surpreendido, em êxtase adorável,
Enquanto os filhos
nus ao peito conchegais!
A fria noite
chega. Os maus, de boca cheia,
Rebolam-se na
terra: ainda pedem pão!
Com eles repartis
a vossa parca ceia;
E vendo-os a
dormir podeis sorrir então.
De inverno quase
sempre as noites são mordentes.
Uivam lobos na
serra: o vento uiva também:
Mas eles vão
dormindo os longos sonos quentes,
Enquanto a vil
insônia oprime a pobre mãe!
Tendes sustos
cruéis. Temendo que lhes caia
A roupa que os
abafa, aos pobres acudis;
E aninhando-os
melhor nas vossas velhas saias
Podeis então
dormir um tanto mais feliz.
Mulher quanto é
suave e longo esse poema
Quanto é preciso ó
mãe, no trânsito cruel,
Que vossa alma
estremeça e o vosso peito gema
A fim de que em
vós brilhe o mais alto laurel!
Quem é que nunca
viu, na rua, a cada passo,
A pálida mulher
que rompe a multidão,
Trazendo
agasalhado, um filho no regaço,
E aos tombos,
muita vez, um outro pela mão?!
Nos frios do
lajedo, às vezes, pede esmola
Às portas dos
cafés: ninguém a quer ouvir:
E a ela qualquer
côdea a farta e a consola
Contanto que sem
fome os filhos vão dormir!
E enquanto à luz
do gás a turba prazenteira
No fumo dos
festins revoa em turbilhão,
Quantos dramas
cruéis nas úmidas trapeiras;
Nos campos quantas
mães sem roupas e sem pão?!
E sempre a mesma
lenda, a mesma história antiga:
Do palácio à
cabana o vosso doce olhar,
Nas insônias
cruéis, na fome ou na fadiga,
Dum raio criador o
berço a iluminar!
No entanto à doce
mãe, se aquele amor sem termo,
Da moda traja
agora os novos ouropéis,
E o vosso coração
já gasto e um pouco enfermo,
Sofrendo se dilui
nos ideais cruéis;
Nas vagas
pulsações dumas recentes ânsias,
Se aquela santa
flor das grandes comoções,
Apenas tem lugar
nas vossas elegâncias,
Como um enfeite de
mimo amado nos salões;
Na corrente fatal
que ao longe arrasta os povos,
Se o vosso grande
afeto intenta erguer-se mais,
Sonhando a
sagração dos heroísmos novos,
Resplendente de
luz; vistosa de metais:
Aos reflexos do
gás, ó mãe, abri passagem
Por entre a
saudação das alas cortesãs,
Levando as
seduções da vossa doce imagem
Aos delírios da
noite, às ceias das manhãs!
Surgi do canto
obscuro aonde o casto seio
Palpita ingênuo e
bom na paz da solidão,
E o vosso amor
levai à ópera e ao passeio
A fim de que ele
arranque um bravo à multidão!
E eu hei de rir ao
ver que o peito onde um tesouro
Maior do que
nenhum podemos encontrar,
Intenta seduzir
pela medalha de ouro
Que aos pequenos
heróis os reis costumam dar!
Arcanjo vai-te
embora: é tarde: em nossas casas
Talvez alguém se
aflija; é tão deserta a rua!...
Tu deves sentir
frio! Embuça-te nas asas:
Dá saudades à lua.
Um beijo em cada
estrela!... Espera que eu sou louco!
Sonhei devo pagar:
perdão anjo dos céus!
Agora tem cuidado;
o céu escorrega um pouco:
Boas noites adeus!
★★★
A minha mãe
(Soneto de H. Heine)
EDMUNDO BARROS
“Poetas Goianos” (1901)
“Poetas Goianos” (1901)
Num momento de
insensatez, outrora
Fugi de vós;
queria, aos quatro ventos,
Ir em busca do “amor”
e, nuns momentos
De delírio, abraçá-lo...
E mundo afora,
Vou. Mas em vão! não
me ouvem os lamentos.
Embora o peço em lágrimas...
embora!...
Ante cada solar
minha alma o implora,
E dão-lhe sô o desprezo
e o riso odientos!...
Depois de sempre e
em vão tê-lo buscado,
Volto um dia a meu
lar. Manso decerra
Uma porta: Éreis
vós... — Mudo, cansado,
Fitei a luz que
nosso olhar encerra;
E vi, surpreso, o
amor, tão procurado, —
O amor mais puro
que encontrei na terra!
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