A Lua
(A Valentim Magalhães)
FONTOURA XAVIER
"Opalas" (1884)
Tu tens um que da
trípode inspirada,
Quando, erguida
nas lúcidas esferas
Como uma copa
sobre mim vasada,
Inundas-me de
sonhos e quimeras.
Eu dera o beijo
das paixões sinceras
Na tua fronte
pálida, escalvada
Como a bossa dum
sábio iluminada
Que faz vivenda
num covil de feras...
Eu quebrara-te a
taça em holocausto,
Foras a eleita do
meu peito exausto,
Foras talvez meu
único conforto...
Não te visse no pó
das elegias,
Nem boiando nas
fundas calmarias
Como um cetáceo
morto!
★★★
Versos à Lua
ATAÍDE MARCONDES
"Amarantos: versos" (19..)
Tu desponta
faceira e majestosa
Prateando-me com
luz serena e bela
E, lânguida,
daqui, desta janela,
Minh’alma te
contempla dolorosa.
Tristemente me
lembro então daquela
Noite em que
brilhavas orgulhosa.
—Eu beijava uma
tez linda e mimosa
—Tu sorrias no céu
serena e bela!
Adorei,
sorridente, a luz brilhante
Que sobre mim e
Ela derramaste
Naquela noite
encantadora e fria!
Hoje só quero, ó
Lua, ó minha amante
Que brilhes, como
então, alva, brilhaste,
Na regelada campa
de Maria!
★★★
Pranto de luar
FRANCISCA JÚLIA
"Esfinges" (1903)
No longo espasmo
do silêncio, alegre e franca,
A alma dos ventos,
ao luar, murmura e fala;
A sombra corre, e
tu, lua formosa e branca,
Derramas pelo chão
claras manchas de opala.
Brás mortas de
amor! Ah! quem te dera, tê-las!
Cessaria, de novo,
o teu soluço aflito!
Eras em que,
trêmula, a sós, sob as estrelas,
Tu passavas com
ele através do infinito...
Mas uma noite, o
espaço todo ornado em festa,
Teu esposo partiu,
enfim... (Quanto desgosto!)
E dessa desventura
extrema ainda te resta
A grande palidez
que te ilumina o rosto.
Partiu... Talvez
que volte aos lares... Mas, enquanto
Ele não volta, em
vão o esperas nessa trilha;
Ficas pálida e
triste, e choras; o teu pranto
Desce à terra e,
ao descer, torna-se luz e brilha.
Chora, infeliz. O
pranto as mágoas atenua.
Sempre fiel, nunca
te canses de chorar.
Se não chorasses,
não teríamos, ó lua,
A poesia sem fim
das noites de luar.
★★★
Coisas ao luar
LUÍS DELFINO
"Imortalidades" (1941)
Vias o rio, sim!
com certo espanto:
Ninfeáceas largas
já em flor olhando,
Como se fossem
náiades em bando
Ao luar, num surdo
riso ou surdo pranto:
Nenúfares:
esparsos grupos; brando
Mover dos braços,
sacudir de manto,
Quando a corrente
rola, e vai dançando
Ao som da voz, à
voz do próprio canto:
Pó de pérola azul
ao longe, e em torno;
Amor à sombra,
beijos em segredo
Da noite ao vesgo
olhar, sabido e morno;
E à luz azul, que
flui pelo arvoredo,
Pã, que anda em
tudo, põe tudo em suborno...
E é tudo ais de
surpresa... e um susto!... e, um medo!...
★★★
Luar na solidão
CÁRMEN FREIRE
"Visões e Sombras" (1897)
Eis-me contigo a
sós, formosa lua,
Ao doce marulhar
das ondas mansas,
Onde dos raios
teus a luz descansas
Que branca e bela
esparge a face tua.
Como a sultana que
na espádua nua,
Segundo as velhas
orientais usanças,
Envolve em fino
véu as louras trancas,
Ficando-lhe mais
clara a espádua sua
Tal te mostras,
rainha dos espaços,
Entre as gazes do
céu adormecida!...
Não sei que doces,
que invencíveis laços
Ligam a ti
minh'alma embevecida!
Ah! deixa-me
seguir no céu teus passos,
Astro da noite,
luz da minha vida!
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