As duas flores
CASTRO ALVES
São duas flores
unidas
São duas rosas
nascidas
Talvez do mesmo
arrebol,
Vivendo no mesmo
galho,
Da mesma gota de
orvalho,
Do mesmo raio de
sol.
Unidas, bem como
as penas
Das duas asas
pequenas
De um passarinho
do céu...
Como um casal de
rolinhas,
Como a tribo de
andorinhas
Da tarde no frouxo
véu.
Unidas, bem como
os prantos,
Que em parelha
descem tantos
Das profundezas do
olhar...
Como o suspiro e o
desgosto,
Como as covinhas
do rosto,
Como as estrelas
do mar.
Unidas... Ai quem
pudera
Numa eterna
primavera
Viver, qual vive
esta flor.
Juntar as rosas da
vida
Na rama verde e
florida,
Na verde rama do
amor!
★★★
Floriram por engano as rosas bravas
CAMILO PESSANHA
Floriram por
engano as rosas bravas
No Inverno: veio o
vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu
bem? Porque me calas
As vozes com que
há pouco me enganavas?
Castelos doidos!
Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio
o pensamento,
De mãos dadas?
Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos
meus, como vão tristes!
E sobre nós cai
nupcial a neve,
Surda, em triunfo,
pétalas, de leve
Juncando o chão,
na acrópole de gelos...
Em redor do teu
vulto é como um véu!
Quem as esparze -
quanta flor! - do céu,
Sobre nós dois,
sobre os nossos cabelos?
★★★
Flor de pessegueiro
ANTÔNIO FEIJÓ
A melindrosa flor
de pessegueiro
Deixei-a, como
dádiva de amores,
A essa que tem o
rosto feiticeiro
E os lábios cor
das purpurinas flores.
E a tímida
andorinha, de asas quietas,
Dei-a também como
lembrança minha,
A essa que tem as
sobrancelhas pretas,
Iguais às asas da
andorinha.
No dia imediato a
flor morria,
E a andorinha
voava, entre esplendores,
Sobre a Grande
Montana onde vivia
O Gênio oculto que
preside às flores.
Mas nos seus
lábios, como a flor abrindo,
Conserva a mesma
carnação,
E não voaram, pelo
azul fugindo
As asas negras dos
seus olhos, não!
★★★
De açucenas e rosas misturadas
ALVARENGA PEIXOTO
De açucenas e
rosas misturadas
não se adornam as
vossas faces belas,
nem as formosas
tranças são daquelas
que dos raios do
sol foram forjadas.
As meninas dos
olhos delicadas,
verde, preto ou
azul não brilha nelas;
mas o autor
soberano das estrelas
nenhumas fez a
elas comparadas.
Ah, Jônia, as
açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e
as tranças d'ouro
podem fazer mil
Ninfas melindrosas;
Porém quanto é
caduco esse tesouro:
vós, sobre a sorte
toda das formosas,
inda ostentais na
sábia frente o louro!
★★★
A órfã e a flor
(À minha filha Cecília)
ATAÍDE MARCONDES
"Amarantos: versos" (19..)
No jardim de minha
vida
Existe mm flor
mimosa
Tão debilzinha
pendida!
— Sem orvalho,
fenecida,
Balança a flor
desditosa!
Um dia esbelta
criança
Lhe disse: — ó
flor por que tremes
No galho que te
embalança?
Perdeste alguma
esperança?
Conta-me, ó flor,
por que gemes?
Responde a flor: —
Se estou triste
Se choro e gemo, é
por ti!
A sorte nisto
consiste:
— O meu perfume
perdi
E tua mãe já não
existe!...
A criança então
lhe deu
Um beijo e disse: —
Se choras
Por minha mãe que
morreu,
Se minha sorte
deploras,
Ó flor, ai! que
direi eu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...