A Saudade
(Ao meu primo o Sr. Henrique José Moreira)
MACHADO DE ASSIS
“Poesias
Dispersas”
Meiga saudade! —
Amargos pensamentos
A mente assaltam
de valor exausta,
Ao ver as roxas
folhas delicadas
Que singelas te
adornam.
Mimosa flor do
campo, eu te saúdo;
Quanto és bela
sem seres perfumada!
Que te inveja o
jasmim, a rosa e o lírio
Com todo o seu
perfume?
Repousa linda
flor, num peito f'rido,
A quem crava sem
dó a dor funesta,
O horrível punhal,
que fere e rasga
Um débil
coração.
Repousa, linda
flor, vem, suaviza
A frágua que
devora um peito ansioso,
Um peito que tem
vida, mas que vive
Envolto na
tristeza!...
Mas não...
deixo-te aí causando inveja;
Não partilhes a
dor que me consome,
Goza a ventura
plácida e tranquila,
Mimosa flor do
campo.
★★★
Esperança e Saudade
AUGUSTO DE LIMA
“Símbolos” (1892)
Sorte falaz a
que nos guia a vida!
Por que há de
ser tão rápida a ventura,
que só a amamos,
quando é já perdida
ou depende de
uma época futura?
O que o presente
mal nos afigura
era esperança,
há pouco apetecida,
e, uma vez no
passado, eis que perdura
como saudade que
não mais se olvida.
Há sempre
queixas do atual momento
e, entre as
datas, se eleva o pensamento,
como uma ponte
de sombrio aspecto.
Em busca da
ventura que ignoramos,
temos saudade ao
bem que não gozamos,
ilusão de
ilusões, sonho completo!
★★★
A Saudade
MACHADO DE ASSIS
“Poesias
Dispersas”
“Saudade! ó casta virgem,
Qu'inspiraste a Bernardim,
Nos meus dias de tristeza
Consolar tu vens a mim.”
E G. BRAGA
Saudade! d’alma
ausente, o acerbo impulso,
Mágico, doce
sentimento d’alma
Místico enleio
que nos cerra doce
O espírito
cansado!... Oh! saudade,
Para que vens
pousar-te envolta sempre
Em tuas vestes
roxeadas tristes,
Nas débeis
cordas de minh’harpa débil?!...
Doce chama me
ateias dentro d’alma.
Meiga esperança
que me nutre em sonhos
De cândida
ventura!... Ó saudade,
D'alma esquecida
o despertar pungente;
Doce virgem do
Olimpo rutilante,
Que co'a taça na
destra à terra baixas
E o agro, doce
líquido entornando
Em coração
aflito, meiga esparges
Indizível
encanto, que deleita,
Melancólicas
horas num letargo
D'espírito
cansado, d’alma aflita,
Que plácida
flutua extasiada,
Na etérea
região, morada excelsa
Do sidéreo
esplendor que a mente inflama;
Tu que estreitas
minh’alma em doce amplexo
Preside ao canto
meu, ao pranto, às dores.
Quando a noite
vaporosa,
Silenciosa,
Cinge a terra em
manto denso;
Quando a meiga,
a clara Hebe.
Cor de neve
Branda corre o
espaço imenso.
Quando a brisa
suspirando,
Sussurrando,
Move as folhas
do arvoredo,
Qual eco d’um
som tristonho
Que num sonho
Revela ao Vate
um segredo.
Quando, enfim,
se envolve o mundo
Num profundo
Silêncio que ao
Vate inspira,
Vens a meu lado
sentar-te,
Vens pousar-te.
Nas cordas de
minha lira.
E me cinges num
abraço
Doce laço
Que se aperta
mais, e mais;
E depois entre
os carinhos,
Teus espinhos
Em minh'alma
repassais!
Entre a
melancolia
De poesia
Me dais santa
inspiração
Da alma solto
uma endeixa,
Triste queixa,
Triste queixa,
mas em vão.
Na morada
estelífera vagueia
Minh’alma em
teus carinhos absorta.
D'aéreo berço,
sobre ameno encosto
Adormece de
amor, junto a teu lado,
E geme
melancólica... e suspira,
‘Té que desponte
da ventura a aurora!
★★★
Saudade
AUTA DE SOUZA
“Poesias”
Ah! se soubesse
quanto sofro e quanto
Longe de ti meu
coração padece!
Ah! se soubesses
como dói o pranto
Que eternamente
de meus olhos desce!
Ah! se
soubesses!... Não perguntarias
De onde é que
vem esta sombria mágoa
Que traz-me o
peito cheio de agonias
E os tristes
olhos arrasados d’água!
Querem que a
lira de meus versos cante
Mais esperança e
menos amargura,
Que fale em
noites de luar errante
E não invoque a
pobre noite escura.
Mas... como
posso eu levar sonhando
A vida inteira
n’um anseio infindo,
Se choro mesmo
quando estou cantando
Se choro mesmo
quando estou sorrindo!
Ouve, ó formosa
e doce e imaculada,
Visão gentil de
eterna fantasia:
Minh’alma é uma
saudade desfolhada
De mãe querida
sobre a cova fria.
Ah! minha mãe!
Pois tu não sabes, santa,
Que Ela partiu e
me deixou no berço?
Desde esse dia a
minha lira canta
Toda a saudade
que lhe inspira o verso!
Depois que Ela
se foi a Mágoa veio
Encher-me o
coração de luto e abrolhos.
Eu sofro tanto
longe de seu seio,
Eu sofro tanto
longe de seus olhos!
Ó minha Eugênia!
Estrela abençoada
Que iluminas o
horror deste deserto...
De teu afeto a
chama consagrada
Lança à
minh’alma como um pálio aberto.
Quando beijares
teus filhinhos, pensa
O que seria
d’eles sem teus beijos;
E, então,
compreenderás a dor imensa,
A amargura cruel
destes arpejos!
Junta as
mãozinhas dos pequenos lírios,
Das criancinhas
que tu’alma adora,
E ensina-os a
rezar sobre os martírios
E a saudade
infinita de quem chora.
★★★
Ausência
VICTRÚVIO MARCONDES
(São Paulo, 13/10/1903)
Quanto me punge a
solidão que invade
Meu pensamento imerso
no desgosto!
Quanto me doe a
torpe soledade
Que chora a ausência
do teu meigo rosto!
Apenas ouço o
canto da saudade
Magoado e mesto
como mês de agosto;
Lembrando as horas
de suavidade,
Cheio de amor,
mirando-te ao sol-posto.
Findou-se para
sempre esse passado,
Que foi mentira
amarga, malogrado,
Pondo-me longe...
e vendo-te bem perto!
Vendo-te perto em
minha fantasia,
Pois, desde o
adeus daquele triste dia
Sinto chorar o coração
deserto!
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