OLAVO BILAC
“Alma
Inquieta”
(1888)
Ah! quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos
comovesse! Ah! quem nos dera
Que inda juntos
pudéssemos agora
Ver o
desabrochar da primavera!
Saíamos com os
pássaros e a aurora.
E, no chão,
sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo,
de hora em hora:
"Beijemo-nos!
amemo-nos! espera!"
E esse corpo de
rosa recendia,
E aos meus
beijos de fogo palpitava,
Alquebrado de
amor e de cansaço...
A alma da terra
gorjeava e ria...
Nascia a
primavera... E eu te levava,
Primavera de
carne, pelo braço!
★★★
Primavera
BULHÃO PATO
“Versos” (1862)
“Versos” (1862)
Contempla este
céu esplêndido,
Ouve aquelas melodias
De tanta ingênua avezinha,
Que alegre, os serenos dias
Da primavera adivinha.
Não vês a olaia? vaidosa!
Só por ver que a amendoeira,
Mais cedo desabrochou,
Vermelha como uma rosa,
De repente se tornou.
Oh! bem vinda primavera!
Ao ver o sorriso terno
Da tua boca divina,
O prado, o monte, a campina,
Que o triste e gelado inverno
Sem piedade devastou,
Num momento se animou!
Em teu regaço a abundância,
Esperançosa floresce;
À sombra de teus verdores,
Entre a suave fragrância
De tuas variadas flores,
Contente o pobre adormece.
E tu, minha vida, ao ver-te
Sozinha a meu lado agora,
Nesta estação, nesta hora,
Neste encantado lugar,
À sombra dessa verdura
Onde frouxa a luz desmaia,
Ante o mar que além suspira
Na loira areia da praia,
Não vês que a razão delira,
Que dentro do coração
Não cabe tanta ventura?!
Falta a vida, sim, a vida,
Para esta alegria imensa,
Das nossas almas, querida!
Viva, ardente, pura, intensa,
Nesses olhos brilha a chama
Do amor que tua alma encerra;
Alma que ao sopro de Deus
Em divino amor se inflama,
Alma que veio dos céus,
E que não cabe na terra.
Fugaz, transitório, vão,
Será para nós o encanto
Que nos enche neste instante
De ventura o coração?
Será! que importa? constante
Virá depois a saudade,
Abraçar essas memórias
De infinda felicidade;
Como ao templo aonde as glórias,
De paz, de amor, de alegria,
Se celebraram um dia,
Mas templo que ao chão tombou,
Se abraça a hera viçosa,
Reveste as pobres ruínas,
Amparando carinhosa
Esse resto que ficou!
Uma lágrima estremece,
Vem de teus olhos à flor!
Minha vida, esquece, esquece,
Que pode haver na existência
Momentos de acerba dor!
O sopro da Providência,
Vivo está, vivo respira,
Neste céu desassombrado,
Na corrente que suspira,
Neste cântico inspirado,
Que as aves soltam no vale,
E dele provém a essência
Do nosso amor imortal!
Contempla o vasto horizonte
Que o sol vivido ilumina;
Olha as flores da campina;
Escuta as águas da fonte;
Respira esta aragem pura,
Embalsamada, e suave;
Ouve o cântico dessa ave,
Que improvisa na espessura!
Recolhe n'alma o perfume,
Desta encantada poesia.
Deste sol, desta alegria,
Que em torno de nós fulgura,
E responde, minha vida,
Se a nossa alma neste instante
Pode com tanta ventura!
Ouve aquelas melodias
De tanta ingênua avezinha,
Que alegre, os serenos dias
Da primavera adivinha.
Não vês a olaia? vaidosa!
Só por ver que a amendoeira,
Mais cedo desabrochou,
Vermelha como uma rosa,
De repente se tornou.
Oh! bem vinda primavera!
Ao ver o sorriso terno
Da tua boca divina,
O prado, o monte, a campina,
Que o triste e gelado inverno
Sem piedade devastou,
Num momento se animou!
Em teu regaço a abundância,
Esperançosa floresce;
À sombra de teus verdores,
Entre a suave fragrância
De tuas variadas flores,
Contente o pobre adormece.
E tu, minha vida, ao ver-te
Sozinha a meu lado agora,
Nesta estação, nesta hora,
Neste encantado lugar,
À sombra dessa verdura
Onde frouxa a luz desmaia,
Ante o mar que além suspira
Na loira areia da praia,
Não vês que a razão delira,
Que dentro do coração
Não cabe tanta ventura?!
Falta a vida, sim, a vida,
Para esta alegria imensa,
Das nossas almas, querida!
Viva, ardente, pura, intensa,
Nesses olhos brilha a chama
Do amor que tua alma encerra;
Alma que ao sopro de Deus
Em divino amor se inflama,
Alma que veio dos céus,
E que não cabe na terra.
Fugaz, transitório, vão,
Será para nós o encanto
Que nos enche neste instante
De ventura o coração?
Será! que importa? constante
Virá depois a saudade,
Abraçar essas memórias
De infinda felicidade;
Como ao templo aonde as glórias,
De paz, de amor, de alegria,
Se celebraram um dia,
Mas templo que ao chão tombou,
Se abraça a hera viçosa,
Reveste as pobres ruínas,
Amparando carinhosa
Esse resto que ficou!
Uma lágrima estremece,
Vem de teus olhos à flor!
Minha vida, esquece, esquece,
Que pode haver na existência
Momentos de acerba dor!
O sopro da Providência,
Vivo está, vivo respira,
Neste céu desassombrado,
Na corrente que suspira,
Neste cântico inspirado,
Que as aves soltam no vale,
E dele provém a essência
Do nosso amor imortal!
Contempla o vasto horizonte
Que o sol vivido ilumina;
Olha as flores da campina;
Escuta as águas da fonte;
Respira esta aragem pura,
Embalsamada, e suave;
Ouve o cântico dessa ave,
Que improvisa na espessura!
Recolhe n'alma o perfume,
Desta encantada poesia.
Deste sol, desta alegria,
Que em torno de nós fulgura,
E responde, minha vida,
Se a nossa alma neste instante
Pode com tanta ventura!
★★★
Volta da Primavera
LUÍS DELFINO
“Imortalidades”
(1941)
Helena, é um
grande ninho azul a esfera:
Anda tudo a
cantar e tudo canta:
E a flor, que
oscila sobre aquela planta,
Vive a cantar
também. — Oh! Primavera!...
Diz o pássaro à
flor: — Ó flor, espera! —
Para, e a beija:
e ao pássaro — Com tanta
Pressa não vás — o vento diz: e o espanta;
(Que o vento à
flor um príncipe trouxera,
Num manto de
turquesa transparente!...)
De lá transborda
uma canção sonora:
Há perto um
ninho num rosal florente;
Ouve-se um hino
de esponsais: cá fora;
A luz cicia em
cima da corrente...
Oh!
Primavera!... Tudo é belo agora!...
★★★
A Primavera
LUÍS DELFINO
“Rosas
Negras” (1938)
A hora, que
chega, vê que é tempo, e deixa
A solta a mata,
filha predileta:
E logo o verde
rolo da madeixa
Desata ao vento,
que ela aspira inquieta.
No vento um
silfo oculto o afago enceta,
Ninhos e aromas,
que nas mãos enfeixa,
Põe-lhe no seio
e trança: a pobre é queixa,
Queixa em cio,
como alma azul de poeta.
Toda carícia,
ardor, canções, perfume,
Geme de gozo,
como se a beijasse
Boca cheia de
beijos de algum nume.
E a erguer-se na
alva a arfar, se crê que nasce
Noiva tímida ao
sol, e ante o seu lume
Nua, em flores e
renda esconde a face...
★★★
O Crime da Primavera
LUÍS DELFINO
“Rosas
Negras” (1938)
Vamos depressa,
que arde tudo; vamos:
Lá funâmbula
saturnal tremenda;
Haja somente ali
quem os entenda,
Que há de ouvir
os tiés e os gaturamos
Sob os arcos,
que alonga o bosque em tenda,
Vaiando a dança
e os ósculos dos ramos;
Cobrem mesmo da
moita a verde renda
Largos idílios
de répteis, que odiamos.
O campo é um
vasto leito de noivado:
Fala-se baixo, o
riso é soluçado,
A voz das coisas
trêmula e queixosa.
Do conúbio a
açucena melindrosa
Vai da açucena
dar um céu ao prado;
Quantas rosas
vão vir de uma só rosa!
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