Soneto de Natal
MACHADO DE ASSIS
“Ocidentais” (1875)
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã,
berço do Nazareno, —
Ao relembrar os
dias de pequeno,
E a viva dança,
e a lépida cantiga,
Quis transportar
ao verso doce e ameno
As sensações da
sua idade antiga,
Naquela mesma
velha noite amiga,
Noite cristã,
berço do Nazareno.
Escolheu o
soneto... A folha branca
Pede-lhe a
inspiração; mas, frouxa e manca.
A pena não acode
ao gesto seu.
E, em vão lutando
contra o metro adverso,
Só lhe saiu este
pequeno verso:
"Mudaria o
Natal ou mudei eu?"
★★★
Natal
AUTA DE SOUZA
“Poesias”
É meia noite...
O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha
branca pendurado,
Como num sonho
místico e fagueiro,
Vem relembrar o
tempo do passado.
Ó velho sino, ó
bronze abençoado,
Na alegria e na
mágoa companheiro!
Tu me recordas o
sorrir primeiro
De menino Jesus
imaculado.
E enquanto
escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme
dolorosamente
Da desventura,
aos gélidos açoites...
Bebe em teus
sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras
uma noite santa,
Noite bendita mais
que as outras noites!
★★★
Natal
LUÍS DE CAMÕES
Dos Céus à Terra
desce a mor Beleza,
Une-se à nossa
carne e fá-la nobre;
É sendo a
Humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à
mor alteza.
Busca o Senhor
mais rico a mor pobreza;
Que, como ao mundo
o Seu amor descobre,
De palhas vis o
corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo
Céu despreza.
Como? Deus em
pobreza à terra desce?
O que é mais pobre
tanto lhe contenta,
Que este somente
rico lhe parece.
Pobreza este
Presépio representa;
Mas tanto por ser
pobre já merece,
Que quanto mais o
é, mais lhe contenta.
★★★
Natal
ONESTADO DE
PENNAFORT
"A Revista" (1926)
A noite desce,
lenta, no jardim
e estende sobre as
árvores e os lagos
véus de neblinas
mais suaves e vagos
que perfumes de lírio
e de jasmim.
A noite sonha que
não mais fim
com seus olhos sonâmbulos
e vagos.
Parece que andam a
passar reis magos
com umas de mirra,
incenso e benjoim...
No céu, a mesma
estrela dos pastores
conduz... O luar é
um halo em torno ao mundo
perfume, feito
luz, da alma das flores.
E o luar, e a
sombra, e os astros, e a água, e o chão...
ao seu silêncio de
êxtase profundo,
abre-se a flor,
triste, da solidão.
★★★
A Ceia de Natal
MARIA AURORA DA
CUNHA
“Revista Feminina” (1919)
Terminou o jantar.
A família reunida
Olha para Bebê. Um
bebê singular.
Há uma viva expressão
de alegria incontida,
BO seu modo de
rir, no seu modo de andar..
A mamã, bela e
moça, exulta embevecida,
O papá põe-se a
rir e o bebê a falar.
É noite de Natal.
A alegria da vida
Baixou, uma pomba,
ao teto desse lar.
A mamãe carinhosa é
linda como aquela
Que, fugindo ao
destino, ao sol cáustico e de ouro,
Atravessou o Egito,
até Jerusalém.
Esse loiro bebê,
branco corno uma estrela,
Lembra aquele
outro anjinho, esbelto, claro e louro.
Que noite nasceu
gruta de Belém...
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