OLAVO
BILAC
“Alma inquieta” (1888)
Tu,
grande Mãe!... do amor de teus filhos escrava,
Para
teus filhos és, no caminho da vida,
Como
a faixa de luz que o povo hebreu guiava
À
longe Terra Prometida.
Jorra
de teu olhar um rio luminoso.
Pois,
para batizar essas almas em flor,
Deixas
cascatear desse olhar carinhoso
Todo
o Jordão do teu amor.
E
espalham tanto brilho as asas infinitas
Que
expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que
o seu grande clarão sobe, quando as agitas,
E
vai perder-se entre as estrelas.
E
eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem
da humana dor, fogem do humano pó,
E,
à procura de Deus, vão subindo essa escada,
Que
é como a escada de Jacó.
★★★
À alma de minha mãe
AUTA DE SOUZA
“Poesias”
Partiu-se o fio
branco e delicado
Dos sonhos de
minh’alma desditosa...
E as contas do
rosário assim quebrado
Caíram como folhas
de uma rosa.
Debalde eu as
procuro lacrimosa,
Estas doces
relíquias do Passado,
Para guardá-las na
urna perfumosa,
Do meu seio no
cofre imaculado.
Aí! se eu ao menos
uma só pudesse
D’estas contas
achar que me fizesse
Lembrar um mundo
de alegrias doidas...
Feliz seria... Mas
minh’alma atenta
Em vão procura uma
continha benta:
Quando partiste
m’as levaste todas!
★★★
Minha Mãe
(Imitação de Cowper)
MACHADO DE ASSIS
“Poesias
Dispersas”
Quanto eu, pobre de mim! quanto eu quisera
Viver feliz com minha mãe também!
C. A. de Sá
Quem foi que o berço me
embalou da infância
Entre as doçuras que do
empíreo vêm?
E nos beijos de célica
fragrância
Velou meu puro sono? Minha
mãe!
Se devo ter no peito uma
lembrança
É dela que os meus sonhos de
criança
Dourou: — é minha mãe!
Quem foi que no entoar
canções mimosas
Cheia de um terno amor — anjo
do bem
Minha fronte infantil —
encheu de rosas
De mimosos sorrisos? — Minha
mãe!
Se dentro do meu peito
macilento
O fogo da saudade me arde
lento
É dela: minha mãe.
Qual anjo que as mãos me uniu
outrora
E as rezas me ensinou que da
alma vêm?
E a imagem me mostrou que o
mundo adora,
E ensinou a adorá-la? — Minha
mãe!
Não devemos nós crer num puro
riso
Desse anjo gentil do paraíso
Que chama-se uma mãe?
Por ela rezarei eternamente
Que ela reza por mim no céu
também;
Nas santas rezas do meu peito
ardente
Repetirei um nome: — minha
mãe!
Se devem louros ter meus
cantos d’alma
Oh! do porvir eu trocaria a
palma
Para ter minha mãe!
★★★
A Mãe
LUÍS
DELFINO
"Algas e Musgos"
(1927)
Tinha
uma graça infinda... uma estranheza
Na
cor do rosto fina e desmaiada;
Um
toque de ouro na imortal beleza...
E
a noite, enfim, dos olhos estrelada!
Uma
gorda criança pendurada
À
mama chupa em langue morbideza,
E,
entre a opala e o rubor de aurora acesa,
Sai-lhe
o bico da boca entrecerrada.
Uma
das mãos já túmida e vermelha
Suspende
e abraça o filho; a outra semelha
Na
brancura, que um leve azul tempera,
Obra
de arte, que um chim pintasse em louça,
Enquanto
dentro, — em cada olhar da moça, —
Nada
em luz, canta e ri uma Quimera.
★★★
A minha Mãe
MARQUESA DE ALORNA
“Poemas de
Alcipe”
(1927)
Natureza! Quais leis
dificultosas
Ao brando coração meu
impuseste!
A quais devo seguir, com
quais quiseste
Subjugar as paixões
imperiosas?
Quando escuto da Mãe vozes
queixosas,
Que me pedem a filha que me
deste,
Arranco-a do meu peito a
que a prendeste,
Sem ver deste as feridas
sanguinosas.
Mas apenas cedi, mais alto
bradas,
E do materno amor golpe
violento
As entranhas deixa-me
laceradas.
Se a não largo, qual é o
meu tormento!
Se lha dou, quantas horas
desgraçadas!
Bárbara lei, difícil
vencimento!
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