A
Isabel a Redentora
(Treze
de Maio)
CÁRMEN FREIRE
"Visões e
Sombras"
(1897)
Tudo ao redor são festas e cantares!
Nunca tão alto som de alegres hinos
Surgiu de toda parte, à voz dos
sinos,
Nos seus gritos de bronze pelos ares!
Fugiram da cidade os seus pesares;
É geral o prazer! Iguais destinos
Irmanaram com os velhos os meninos,
Com as humildes choupanas os solares!
E cabe a vós, Senhora, tanta glória,
Pois livrastes da dor do cativeiro
Milhares de infelizes, cuja história
De longas dores é um poema inteiro;
Aceitai, pois, oh anjo da vitória,
Da pátria livre o livre amor
primeiro.
★★★
Ao
Heroico Generalíssimo
Manoel Deodoro da Fonseca
Manoel Deodoro da Fonseca
CÁRMEN FREIRE
"Visões e
Sombras" (1897)
Para nós, almas livres, não existe
Direito algum além da liberdade;
Vimos da terra ardente, onde hoje
triste
Chora entre cinzas a fiel saudade.
Artistas, nossa eterna mocidade
Através dos sarcófagos persiste,
E, abrindo as asas à imortalidade,
Cremos num Deus que às tentações
resiste.
Cremos no alto poder do pensamento,
Da vitória gloriosa do talento,
Das criações dos gênios imortais.
Tu, que nos deste um horizonte novo,
Tu, que entregaste a liberdade a um
povo,
Creio em ti, General dos generais.
★★★
Teófilo Dias
AUGUSTO DE LIMA
“Símbolos” (1892)
I
Jaz uma lira a balançar
suspensa
dos braços de uma cruz,
símbolos santos;
onde, porém, os hinos eram
tantos,
onde, o cantor cheio de vida
e crença?
Aves, chorai conosco a mágoa
intensa!
Astros, que ele cantou,
fazei-vos prantos!
Vinde gemer nos ecos de seus
cantos,
florestas virgens, natureza
imensa!
Na frágil urna, que encerrava
a essência
divina dos eleitos, a
existência
já não podia agora ser
contida.
Que a palma de imortal, que
ela procura,
quando a encontra, desfaz-se
a criatura
na combustão do gênio
destruída.
II
Maldita a chama, que, no
crânio acesa,
cresta o organismo e o
coração devora!
Maldito o sol, que mata, em
plena aurora,
a obra prima da fértil
natureza!
Já nasce o poeta com a lira
presa
da nevrose que a fere de hora
em hora,
e, quando vibra a nota mais
sonora,
vem a morte buscá-lo sem
surpresa.
Alma que foste um sol, alma
de chama,
voaste, bem sei; mas há de a
tua fama
ecoar em vastíssimo
proscênio.
Verá, quem ler teu poético
tesouro,
teu coração em cada estrofe
de ouro,
em cada verso triunfal – teu
gênio.
★★★
A Raimundo Correia
AUGUSTO DE LIMA
“Contemporâneas” (1887)
Sorriu-te a Musa, infante
inda no berço,
e dos “Primeiros sonhos”
despertou-te;
e, desde então, cantando dia
e noite,
leva-te o gênio musical do
Verso.
As vastas “Sinfonias” do
universo,
na lira de ouro sóbria, Orfeu
legou-te
e, sem que ao gongorismo vão
se afoute,
o estilo é rico, cinzelado e
terso.
Ali, num microcosmo,
condensaste
aromas, sons e luz, e, por
contraste,
os gritos do clarim e a
flauta langue.
Nos “Versos e Versões”,
porém, conquistas
o ideal supremo dos geniais
artistas,
molhando a pena no teu
próprio sangue.
★★★
José Bonifácio
MACHADO DE ASSIS
“Americanas” (1875)
De tantos olhos que o brilhante lume
Viram do sol amortecer no
ocaso,
Quantos verão nas orlas do
horizonte
Resplandecer a aurora?
Inúmeras, no mar da eternidade,
As gerações humanas vão
caindo;
Sobre elas vai lançando o
esquecimento
A pesada mortalha.
Da agitação estéril em que as
forças
Consumiram da vida, raro
apenas
Um eco chega aos séculos
remotos,
E o mesmo tempo o apaga.
Vivos transmite a popular memória
O gênio criador e a sã
virtude,
Os que o pátrio torrão honrar
souberam,
E honrar a espécie humana.
Vivo irás tu, egrégio e nobre
Andrada!
Tu, cujo nome, entre os que à
pátria deram
O batismo da amada
independência,
Perpetuamente fulge.
O engenho, as forças, o
saber, a vida
Tu votaste à liberdade nossa,
Que a teus olhos nasceu, e
que teus olhos
Inconcussa deixaram.
Nunca interesse vil manchou
teu nome,
Nem abjetas paixões; teu
peito ilustre
Na viva chama ardeu que os
homens leva
Ao sacrifício honrado.
Se teus restos há muito que
repousam
No pó comum das gerações
extintas,
A pátria livre que legaste
aos netos
E te venera e ama,
Nem a face mortal consente à
morte
Que te roube, e no bronze
redivivo
O austero vulto restitui aos
olhos
Das vindouras idades.
“Vede (lhes diz) o cidadão
que teve
Larga parte no largo
monumento
Da liberdade, a cujo seio os
povos
Do Brasil te acolheram.
Pode o tempo varrer, um dia,
ao longe,
A fábrica robusta; mas os
nomes
Dos que o fundaram viverão
eternos,
E viverás, Andrada!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...