Antônio Botto, o poeta das almas sensíveis
Texto publicado originalmente na revista "Fon-Fon", no ano de 1944. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
---
Foi o poeta
Francisco Lopes quem me revelou esse outro poeta, Antônio Botto, das Canções.
Botto é
português. E pode ser considerado o precursor da poesia moderna, em Portugal.
É certo que
o crítico José Gaspar Simões faz ressaltar que “a personalidade de Antônio
Botto tem sido mais discutida do que a sua obra". Mas o caso é que o
próprio Guerra Junqueiro assegurou, com a sua autoridade de poeta genial: “As
canções Antônio Botto são eternas”.
Talvez o emotivo
de Os Simples, assomo de entusiasmo
incontido, tenha exagerado um pouco, na sua definição.
O que me
parece mais justo, mais razoável, é o julgamento de Luige Pirandello, o grande
Pirandello, quando afirma: "A poesia de Antônio Botto é um caso novo e
genial".
Creio que,
sendo mais comedido na sua maneira de ver e estudar o poeta, Pirandello foi,
realmente, mais exato, mais preciso.
Porque,
indiscutivelmente, Botto é um poeta de mérito.
Sob uma
forma simples, espontânea, quase popular, aparentemente vulgar, e até mesmo
plebeia, ele exprime ideias novas, conceitos originais, altas reflexões de um
verdadeiro pensador, de um filósofo insolente – com um pouco do cinismo de
Diógenes e a honestidade de Sócrates.
A sua
biografia não o apresenta, e absoluto, como um homem perseguido pela dor. Pelo
menos não parece ter sofrido como certos poetas.
Verlaine,
por exemplo, sofreu mais. Baudelaire foi vítima de agruras e vexames mais
tristes. Oscar Wide, como se sabe, foi uma criatura tiranizada pelo próprio destino.
Nas mãos do seu destino, foi ele um fantoche. Seu opróbrio...
Muito bem!
Não é preciso ir longe.
O caso é que
Antônio Botto, com quarenta e dois anos apenas, não parece ter padecido como esses
seus irmãos de sonho e de glória.
Entretanto,
sob a forte influência de um lirismo a seu modo – um lirismo doloroso e
displicente; agindo como um poeta que escreve para o coração e o cérebro, ele
revela conhecer a fundo a alma humana.
De sorte que
as suas belas canções traduzem, fielmente e sem esforço, o sentimento de todos
os que amam e padecem. Amam e padecem com os seus fracassos e s suas vitórias
calculadas, os seus erros e os seus triunfos, as suas grandezas e as suas
baixezas comuns aos dois sexos em luta, sob os disfarces e os embustes do amor.
Não é fácil
destacar uma das canções de Antônio Botto.
Abrindo o
seu volume, encontro estas aí, que mais parecem esboços, ligeiros estudos de
alma de um pintor ou breves anotações para um diário amoroso. Vejamos...
Morrer jovem
eis a minha aspiração!
Não me agrada chegar à velhice
e viver, inutilmente, na sombra
renunciando, privado...
Morrer Jovem
e de rosas coroado!
Outra:
Quando eu olho para as rosas
vermelhas do teu jardim,
mais se acentua o desejo
de deitar luto por mim...
Outra, ainda:
A tudo quanto me pedes
porque obedeço – não sei.
vês? – quiseste que eu
cantasse...
Pus-me a cantar – e chorei.
E este
encanto de psicologia maliciosa do amor:
No amor,
não duvides, amor meu –
dois tipos de homem
houve sempre.
E esta verdade
que é maior que a própria vida,
só por ele – vê lá bem!
poderá ser desmentida.
– Um,
a contemplar se contenta;
e outro
apaixona-se, intervém...
Antônio
Botto, conquanto modernista por índole, não despreza os modelos consagrados
pelos mestres de classicismo, como o soneto, por exemplo.
Um dos seus
sonetos, que já mereceu inúmeras citações, até mesmo no Dicionário
Universal de Literatura, de Henrique Perdigão, é o que exprime "a sua
ironia, toda a sua amargura, toda a sua intenção de artista".
Aqui está a sua bela peça
poética:
Homem que vens de humanas
desventuras,
que te prendes à vida e te
enamoras,
que tudo sabes e que tudo
ignoras,
vencido herói de todas as
loucuras;
que te debruças, pálido, nas
horas
das tuas infinitas amarguras
e na ambição das coisas mais
impuras,
e és grande simplesmente quando
choras;
que prometes cumprir e que te
esqueces,
que te dás às virtudes e ao
pecado,
que te exaltas e cantas e
aborreces.
arquiteto do sonho e da ilusão,
ridículo fantoche articulado,
- eu sou teu camarada e teu
irmão!
Antônio
Botto é um poeta que nasceu para maravilhar as almas sensíveis.
YVES
BASTOS PORTELA
Revista "Fon-Fon", abril de 1944.
Yves Bastos Portella foi meu avô
ResponderExcluirBoa noite! Onde encontro a biografia dele? É que Rubem Braga cita ele em uma crônica de 1946 e fiquei curioso. Meu whatsapp 11 981922181.
ResponderExcluir