Olavo Bilac: o Príncipe dos Poetas
Texto publicado originalmente na revista "Carioca", na década de 1940. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
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Foi por uma
das madrugadas chuvosas de dezembro que o espírito de Olavo Bilac se apagou por
todo o sempre.
Ninguém mais
do que o cantor da Tarde e Via Láctea soube amar a sua terra,
soube elevar tudo que é brasileiro, manifestando-o pelo esplendor de seu verbo
admirável e pujança de pena privilegiada.
Por uma
época de grande agitação literária, quando se chocavam inúmeras escolas e que
se não sabia ainda, com certeza, a que viria exercer domínio sobre todas as
correntes que se opunham, foi Olavo Bilac sagrado pela vontade nacional
“príncipe dos poetas brasileiros”. E, justiça se lhe faça, Bilac esteve à
altura do sufrágio e, gozando desse principado, elevou a literatura pátria ao
mais alto pináculo da perfeição.
Poeta,
nenhum outro como Bilac soube dar à poesia uma expressão mais alta e luminosa,
cultuando-a com maior carinho e conhecendo-lhe os mais íntimos segredos. E,
disso deu testemunho pela arte suprema que lhe imprimiu a beleza cristalina com
que lhe floriu todas as rimas.
Escritor,
Bilac é brilhante e sóbrio como aqueles que mais o sejam e, para confirmação
dessa verdade inconteste, bastam as páginas imorredouras de Ironia e Piedade
e Caçadores de Esmeraldas. Páginas maravilhosas, sempre extravasadas em
um purismo surpreendente e invulgar que, em todos os tempos, dignificam e
honram a língua portuguesa.
Em todas as
explosões de seu espírito, Bilac foi um amoroso incontentado e essa afirmativa
temos a todo instante em sua obra toda.
Obra de cintilâncias extraordinárias, que nos ensina a todo momento que em amor não deve haver meio termo, que em amor o triunfo deve ser absoluto.
Para Bilac,
o amor era o mais alto sentimento humano e, por isso ele o exigia integral em
todas as suas manifestações. Exigia-o belo como a verdade de que promana e puro
como a inocência de que deveria ser sempre florido.
A própria
Natureza é para Bilac, em todas as suas formas, a expressão máxima e harmoniosa
do amor. É sempre cheia de cantões de rosas candentes e papoulas vermelhas;
sempre cheia de frêmitos de ninhos e tatalar de asas; sempre envolvida da
música múrmura das fontes e do som das trêmulas cascatas; sempre embriagada
pela sinfonia das cores e pelo abraço verde dos ramos.
Bilac foi
como todos os gênios e, para ele, a vida só tinha uma razão de ser: o amor. E,
todas as circunstâncias felizes ou desgraçadas que a aureolam, infiltrando-a
muita vez em um cálice de licor ou de veneno mortal, seriam pouco, doeriam
muito pouco, se houvesse a recompensa do amor.
O amor foi
para Bilac o começo e o fim de tudo, porque nele existia a razão imortal da
vida. Razão que o fez o mais feliz e desgraçado dos poetas, porque soube amar
verdadeiramente amor, conhecendo-lhe todas as doçuras e amargores.
Bilac não
foi somente o poeta formidável e prosador extraordinário, a que se conferiu a
maior vitória de uma época. Foi também um grande idealista e como tal legou às
gerações vindouras, para as gerações de uma grande pátria, lições estupendas de
patriotismo e de amor à terra brasileira, lições de um grande apostolado.
Legou sim,
porque em uma hora infeliz da existência nacional, hora em que se não
acreditava fosse alguém capaz de acordar o civismo brasileiro, ele o fez com o
prestígio de seu verbo inflamado e luminoso, tendo fortuna de ver, quase ao fim
de seu outono, realizado o seu grande sonho. Teve a fortuna de ver o Brasil,
pelo prestígio de sua palavra candente, integrado nos seus mais altos destinos.
Bilac não
morreu: há de sempre viver enquanto houver quem saiba sentir e amar na vida,
porque, as dores que sofreu e os amores que sentiu, extravasou-os fielmente na
beleza de rimas imortais, no lirismo encantador de sua prosa magistral e no
purismo admirável de sua língua maravilhosa.
BENEDICTO
LOPES
Revista
“Carioca” (Década de 1940).
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