O injustiçado Cruz e Souza
Texto publicado originalmente na revista "Vamos Ler!", em edição de 1943. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
Texto publicado originalmente na revista "Vamos Ler!", em edição de 1943. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Vale lamentar a injustiça que se tem
feito a esse grande poeta, figura ímpar no século, e inegavelmente a mais
moderna inspiração na poesia brasileira. Nunca lido, raramente citado, contudo
Cruz e Sousa vive entranhadamente no movimento que se lhe seguiu. Reagindo ao tardio parnasianismo brasileiro,
não obteve ressonância para sua obra, que era na verdade menos populista que os
sonetos de fecho-de-ouro para álbuns de mocinhas, cujos autores detinham os cetros consagradores. Mas a sua inspiração
pertencia ao futuro, e hoje que
os outros já estão bem mortos, Cruz e Sousa reanima-se e identifica-se como
precursor de nossa poesia moderna.
Bom poeta e prosador medíocre, Cruz e
Sousa foi um mestre da língua, e na sua pena os vocábulos se renovam e ganham rebrilhos inéditos.
Esteta, compenetrado orgulhosamente da excepcionalidade da arte, foi no íntimo
um ferido, um trágico. Se a vida não
ia poupá-lo, deu-lhe antes nervos finos capazes
de senti-la dobradamente. Daí o sentido de sua existência, a conclusão de seu orgulho, o plano
altivo de sua arte, preferindo a
torre de marfim à lamúria, à fraqueza.
Não há o menor receio em situar o poeta
Cruz e Sousa como um dos mais completos exemplares de artista aparecido em
nosso país.
Revista "Vamos Ler!", 2 de setembro de 1943.
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