Notícia sobre Manoel Botelho de Oliveira
Texto publicado originalmente na revista "Autores e Livros", em edição de 1949. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
Texto publicado originalmente na revista "Autores e Livros", em edição de 1949. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
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Manoel
Botelho de Oliveira nasceu na Bahia, em 1638. Era filho de um capitão de
infantaria – Antônio Álvares Botelho para uns, Antônio Álvares de Oliveira,
para outros.
Fez os
preparatórios na Bahia, e a seguir partiu para Portugal. Estudou Direito na
Universidade de Coimbra, e diz uma tradição que ali foi amigo íntimo de
Gregório de Matos.
Estudou a
fundo a língua latina, a espanhola e a italiana. Regressou ao Brasil em data
que se ignora e abriu banca de advogado. Foi então nomeado Vereador do Senado,
da Câmara e Capitão-Mor das Ordenanças. Teve também o título de fidalgo da Casa
Real.
Faleceu na
Bahia, septuagenário — em 5 de janeiro de 1711.
Nos anais
literários do Brasil, Botelho de Oliveira ocupa um lugar especial: e isso por
ter sido o primeiro poeta nacional que publicou livro.
Cuidadoso de
sua arte, escrupuloso da perfeição dos seus versos, ele poliu e limou, durante
anos, o que lhe saiu da pena. Já velho, deliberou dar a edição de seus trabalhos.
Em 1703 obteve licença para isso.
Seu livro
foi impresso, no ano seguinte, na oficina de Manuel Menescal, impressor do
Santo Ofício. Foi assim que, em 1705 apareceu a veneranda obra, apresentando
este longo título: Música do Parnaso, dividida em quatro coros de rimas
portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com seu descante cômico
reduzido em duas comédias. Era o livro foi dedicado a D. Nuno Álvares
Pereira de Melo, Duque de Cadaval.
A Música
do tem Parnaso tem merecido o apreço dos entendidos. A Academia das
Ciências de Lisboa catalogou o poeta entre os clássicos da língua. A Academia
Brasileira de Letras escolheu Botelho de Oliveira para um dos patronos do
quadro dos correspondentes e deu, na coleção dos Clássicos Brasileiros,
uma edição da Música do Parnaso juntamente com A Ilha da Maré.
Botelho de
Oliveira foi, em primeiro lugar, um perfeito erudito como o evidencia o simples
fato de compor, como ele compunha, com igual mestria, nas quatro línguas em que
redigiu a Música do Parnaso.
Para nós,
brasileiros, porém, ele tem uma significação maior do que a de ter sido apenas
um erudito – uma significação maior e que muito mais nos emociona: é ter sido,
em sua essência, um poeta que amou e sentiu a natureza brasileira.
Com efeito,
se a Música do Parnaso, com o seu lirismo subjetivo e tanta vez, vago,
poderia ter sido composta por um poeta de qualquer latitude – A Ilha da Maré
só poderia ter sido o feita por um poeta brasileiro, e mais do que isso: por um
poeta da região baiana. Aqui, realmente, está, em seu amanhecer gracioso e
ingênuo, a vida do primitivo Brasil e do maravilhoso idílico Brasil-baiano do
século XVIII. É a paisagem da cidade, é a vida dos pescadores, são os peixes e
os mariscos, são as plantas nativas... São as frutas – a laranja, o limão, a
cidra, as uvas moscatéis, os melões, as melancias, as romãs rubicundas, os
cocos gostosos, os cajus belos, as pitombas douradas, os araçás, as bananas, a
pimenta, o mamão, o maracujá, os ananases "que para rei das frutas são
capazes", a mangaba... São, também, os inhames, os carás, a mandioca, os
aipins, o arroz...
Tudo isso
Botelho de Oliveira canta e celebra, e sentimos em seus versos que ele ama
enternecida e filialmente esse seu mundo fresco, novo e virgem, esse seu mundo
inaugural: o Brasil.
Botelho de
Oliveira é patrono da Academia Brasileira de Letras (quadro dos
correspondentes) e da Academia Baiana de Letras.
Revista
“Autores e Livros”, fevereiro de 1949.
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