Eugênio de Castro – Aspectos biográficos
Texto publicado originalmente no jornal "A Noite", em edição de 1945. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
Texto publicado originalmente no jornal "A Noite", em edição de 1945. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
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Eugênio de
Castro, notável poeta português, nasceu em Coimbra a 4 de março de 1869. É uma
das figuras de maior relevo no conjunto das letras contemporâneas lusitanas.
Suas poesias
são de um esquisito e têm um encanto particular, que firma uma personalidade
inimitável. Eugênio de Castro publicou uma infinidade de volumes. Fecundo e
inspirado, soube levar à poesia os mais triviais problemas diários, elevando-os
com a magia de sua arte sublime. Seus poemas são, precisamente, uma elevação da
vida permanente dos sentimentos humanos, dos sonhos de seu povo, com o qual se
sente plenamente identificado, apesar da sua excepcional universalidade
poética.
Suas rimas e
sua métrica são absolutamente pessoais, de maneira que os poemas de Eugênio são
a expressão singular de um pensamento não menos singular. Daí surge, então, sua
inimitabilidade, sua personalidade, sua individualidade poética, porque o
popular poeta português tem, antes de tudo, o valor indiscutível da individualidade.
Individual no aspecto criador; individual no sentido orientador e não menos
individual na forma expressiva de seu pensamento, que foi sempre a superação de
si mesmo.
Eugênio de
Castro, num país no qual a poesia se manifesta geralmente lírica, é o mais
lírico de todos os poetas. Mas, sob o acentuado lirismo da forma alenta a mais
crua das realidades: a da vida do homem, com suas tribulações, com suas dores,
com seus sonhos mais íntimos. É que no fundo do poeta domina o pensador, o
sociólogo, o patriota que sonha um futuro de glória para sua pátria e seu povo.
Se em algum
poeta domina a angústia permanente do momento, Eugênio é dos primeiros, porque
sendo como é um homem do povo, está superado na angústia pela angústia
criadora, que é alento para as multidões, e que é nele a mesma vida feita
verso, feita dor.
Eugênio de
Castro é dos poucos poetas — partindo da base universalística do autêntico
poeta — que soube unir o popular ao eminentemente artístico. Por isso,
apreciando muito nele a ideia, não se pode desprezar a forma. Com artifícios
deslumbrantes, com frases magníficas, com imagens cheias de luz e cor,
construía verdadeiras maravilhas poéticas. Daí o ocupar por méritos próprios
uma cadeira na Academia de sua pátria.
Jornal “A Noite”, 8 de maio de 1945.
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