Cruz e Souza e sua atuação no movimento simbolista
Texto publicado originalmente na revista "Vamos Ler!", em edição de 1942. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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A história do simbolismo no Brasil não
pode ser contada sem destacarmos o nome de Cruz e Souza. Este movimento de
reação contra os excessos naturalistas e os exageros do parnasiano teve, na
verdade, uma das suas mais altas expressões no cantor de Missal. A
tendência mística dos discípulos de Verlaine, Rimbaud e Baudelaire, em nosso
país, reflete-se, magnificamente, nos versos do notável poeta catarinense. O
autor de Broquéis era, na observação exata de Jackson de Figueiredo, uma
grande alma religiosa, embora sem a beatitude cristã de Alphonsus de Guimaraens.
Cruz e Souza não encontrou, na sua
vida cheia de atribulações, a “verdade religiosa”. Mas os seus poemas mostram-se,
dentro de certos limites, cânticos de amor e de fé, na luta contra a angústia
que marcou a sua existência. Porque o poeta, com a sua origem modestíssima, foi
obrigado a trabalhar desde cedo pela conquista do pão. Todas as suas vitórias
vieram amargadas em obstáculos e empecilhos.
Muito jovem ainda, deixou Desterro,
sua cidade natal, agregando-se a uma companhia dramática. E, desempenhando as
simples funções de “ponto”, percorreu, assim, vários Estados do Brasil. Em toda
parte, a sua figura estranha despertava interesse, logo transformado em
admiração pelo brilho do seu talento. No Rio, conseguiu mesmo um largo círculo
de apreciadores de seus versos, aparecidos em jornais e revistas.
Em 1893, de volta de uma de suas viagens,
fixou residência na capital da República. E, com o apoio de alguns amigos,
publicou Missal, o seu primeiro livro. Foi um êxito surpreendente. O seu
nome logo se projetou no cenário das letras pátrias, a tal ponto que se tornou,
em breve, uma das figuras marcantes da nossa literatura.
Missal representava,
de fato, já uma transição bem clara para o Simbolismo. Constituía o abandono
dos postulados naturalistas, que, então, dominavam nossas letras. E, no mesmo
ano, com o lançamento de Broquéis, dava Cruz e Souza mais um passo à
frente, investindo contra as fórmulas adotadas pelo Parnasianismo. O seu livro
era uma expressão pura da nova escola, afirmando, ao lado do ineditismo do
ritmo, uma extraordinária sensibilidade poética.
A mentalidade naturalista, agnóstica e
liberal, comandava o panorama das nossas letras. E Cruz e Souza teve a coragem
de romper com os esquemas surrados da velha poesia. Mostrou a necessidade de
lutarmos contra os métodos que se restringiam à exposição do “concreto”, para
traduzirmos, em ritmos livres, os dramas interiores. A sua voz repetiu, com veemência,
a palavra de combate, proferida, na França, por Baudelaire, Rimbaud e Verlaine.
Em 1898, Cruz e Souza faleceu,
vitimado pela tuberculose. Mas desaparecendo aos trinta e cinco anos, deixou
uma obra que atravessará os tempos.
Revista “Vamos
Ler!”, 15 de outubro de 1942.
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